Na
presente aula, serão apresentados fatos a respeito do chamado
"batismo com [ou 'no'] Espírito Santo" apenas sob a
perspectiva pentecostal. Assim, não iremos nos ater ao ponto de
vista cessacionista, segundo o qual os dons espirituais se
extinguiram ao final da era apostólica.
Cabe
inicialmente apresentar um breve histórico do movimento pentecostal,
conforme defendem as denominações cristãs que seguem tal vertente:
- O Livro dos Atos dos Apóstolos narra o cumprimento da promessa bíblica acerca do derramamento do Espírito Santo sobre os cristãos, na seguinte conformidade: no capítulo 2 temos o relato do "Pentecostes" propriamente dito; no capítulo 8 vemos a descida do Espírito Santo sobre os samaritanos, no capítulo 10 sobre os gentios (na casa de Cornélio), e no capítulo 19 o Espírito vem sobre os judeus de Éfeso, que conheciam apenas o batismo de João.
- Montano, no século II, afirmava que a Volta de Cristo seria em seu tempo, que o Reinado do Messias seria em sua vila, e que ele teria papel de destaque no Reino. Montano e suas seguidoras Priscila e Maximila, profetizavam e falavam em línguas ininteligíveis.
- O embrião do atual movimento pentecostal pode ser percebido já no século XVIII, no metodismo de John Wesley.
- Willian Parham, adepto do Movimento Holiness, funda o Betel College em 1900 (Kansas-EUA). Com um grupo de alunos, passa a "estudar" o Espírito Santo e incentiva seus alunos a buscarem o batismo.
- Em 01-01-1901, Agnes Ozman é batizada.
- Em 1905, Parham abre outra escola em Houston, Texas. Na referida escola, estuda Willian J. Seymour.
- Em 1907, Willian H. Durham funda a North Avenue Mission, em Chicago. Nesse ambiente Willian Seymour aprende a mensagem pentecostal. Gunnar Vingren, Daniel Berg e Louis Francescon também foram expostos aos ensinos de Durham acerca do pentecostalismo.
- Nessa mesma época, Seymour passa a pregar e ensinar a doutrina pentecostal na Rua Azuza, 312, Los Angeles. O grupo que ali se reunia era conhecido como Missão Apostólica da Fé.
- Em 19 de novembro de 1910, Gunnar Vingren e Daniel Berg, missionários suecos, chegam ao Brasil. Essa data é considerada o início do movimento pentecostal brasileiro.
- Poucos anos antes, Louis Francescon se estabelece no sul brasileiro, entre imigrantes italianos. Muda-se para São Paulo, e congrega na Igreja Presbiteriana do Brasil. Após pregar sobre o batismo no Espírito Santo, é expulso da denominação e em junho de 1910, com vinte seguidores, funda a Congregação Cristã no Brasil.
- No dia 18 de junho de 1911, Vingren e Berg fundam a primeira igreja pentecostal em nosso solo, em Belém do Pará (Norte do País) utilizando o nome Missão Apostólica da Fé, de Willian J. Seymour, uma vez que eram oriundos daquela denominação.
- Em 1914, a denominação fundada por Seymour tem o nome mudado para Assembly of God.
- Em 1918, a "filial" brasileira também muda o nome, para Assembleia de Deus.
- Em 1923, Aimee Semple McPherson funda a Igreja do Evangelho Quadrangular nos EUA. Em 1951 a denominação chega ao Brasil.
- Na década de 1950 Manoel de Melo, dissidente da IEQ, funda a Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo.
- Em 1961, o missionário David Martins Miranda, dissidente da Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, funda a Igreja Pentecostal Deus É Amor.
- No final da década de 1960, Robert McAlister funda a Igreja de Nova Vida. Mc Alister serviu à Assembleia de Deus e, mais tarde, à Cruzada Nacional de Evangelização.
- Em 1977 Edir Macedo, R.R. Soares e Roberto Augusto Lopes, oriundos da INV, iniciam a Igreja Universal do Reino de Deus em 1977.
- Em 1980, Soares se desliga da denominação, cuja liderança é assumida por Macedo, e funda a Igreja Internacional da Graça de Deus.
- Outras denominações mais recentes são a Comunidade Sara Nossa Terra e a Igreja Apostólica Renascer em Cristo (década de 1980).
- Em 1998, Valdemiro Santiago, ex-líder da IURD, rompe com a denominação e funda a Igreja Mundial do Poder de Deus.
- Fazem parte do pentecostalismo clássico, ou Primeira Onda: AD e CCB. Integram a Segunda Onda do pentecostalismo: IEQ, IPBC, IPDA. Já da Terceira Onda, também conhecida como neopentecostalismo: IURD, IIGD, IARC, IMPD (foram citadas somente as principais denominações).
Como
sabemos, de acordo com a doutrina pentecostal, o batismo com o
Espírito Santo é acompanhado por uma evidência inicial: o falar em
línguas. No entanto, devem ficar claros os pontos abaixo
relacionados:
a)
Falar em línguas não é o mesmo que ser selado com o Espírito
Santo. Sim, o "batismo" nada tem a ver com selo.
Digo isso porque, infelizmente, é comum em nosso meio se ouvir que
"fulano" foi selado, quando o mesmo fala em línguas pela
primeira vez. Na realidade, o indivíduo é selado quando
efetivamente passa a fazer parte do Corpo de Cristo, no ato de sua
conversão. Nesse momento crucial de nossa vida, Cristo nos "sela"
com o Espírito Santo, o qual passa a habitar em nós. Somos selados
com o Sangue de Cristo, como se, numa metáfora, ele nos carimbasse e
dissesse: "Esse é meu". Isso fica claro em Efésios 1.13:
"Em
quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes
selados com o Espírito Santo da promessa."
Claro está que o versículo em apreço não faz
qualquer alusão ao "falar em línguas", mas sim ao fato de
que, uma vez que o homem ouve o Evangelho e nele crê, recebe o
Espírito Santo como selo, como marca, indicando que, doravante,
passa a pertencer a Cristo.
b)
Falar em línguas não é um indicativo de que se é melhor do que os
outros. Exatamente isso: o falar em líguas não torna os
pentecostais melhores que ninguém, ao contrário do que muitos
pensam. Aliás, conheço muitos crentes tradicionais que possuem a
conduta muito mais ilibada, se preocupam muito mais com sua moral,
buscam viver em santidade muito mais que alguns pentecostais que "se
acabam" falando em línguas durante o culto e, findo o culto, ao
sair da igreja, dão péssimo exemplo em sua vida social,
profissional, conjugal, etc. Claro que esses não são a maioria. Os
pentecostais de fato, via de regra, buscam seguir a Cristo e viver em
obediência a Deus. Mas o diferencial desses não é o falar em
línguas, mas sim a piedade e o amor ao próximo.
c)
Quanto à suposta língua dos anjos: Que fique claro que as
línguas faladas pelos pentecostais não é a língua dos anjos.
Muitos assim interpretam com base no texto de I Coríntios 13. Porém,
deve ser observado que na passagem bíblica em apreço o apóstolo
Paulo fala em hipóteses: "Ainda que...". Ele não afirma
que iria doar seus bens aos pobres, entregar seu corpo para ser
queimado vivo, ou falar em línguas angelicais. Antes, sua intenção
é deixar patente que, ainda que fizesse isso e tantas outras coisas,
se não as fizesse por amor, não teria valor algum. Para tal,
emprega casos extremos.
Além
disso, como sabemos, nas Escrituras sempre que os anjos se
comunicavam com alguém, empregavam o idioma humano para quem era
direcionada a mensagem.
Lembremos
também que as línguas faladas pelos discípulos em Atos 2 eram
idiomas humanos, reconhecíveis pelos povos que as ouviam.
d)
O Espírito Santo não deixa ninguém fora de controle. Pelo
contrário, quanto mais o cristão busca ser cheio do Espírito, mais
ele demonstra por meio de seus atos, palavras e atitudes, que é por
Ele guiado. Lembremos que, de acordo com Gálatas 5.22, "o
fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança."
Ou
seja, arroubos de histeria, gritos desconexos, atitudes robóticas e
êxtases incontroláveis são diametralmente opostos aos efeitos
produzidos pelo Espírito Santo em nossa vida. Ressalto ainda que, na
Casa de Deus, tudo deve ocorrer dentro dos padrões de "decência
e ordem" (I Co 14.40).
e)
Batismo com o Espirito Santo e batismo com fogo são coisas
distintas. Com base nas palavras de João Batista registradas
em Mt 3.11, a absoluta maioria dos pentecostais crê que tais termos
são sinônimos: "E
eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas
aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas
não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e
com fogo."
Porém, basta ler o versículo seguinte, e tudo se aclara:
"Em
sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o
seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará."
Ou
seja, os versículos em apreço dizem respeito ao juízo de Deus: os
cristãos que foram imersos no Espírito Santo e são sua morada
representam o trigo, que será ajuntado nos celeiros de Cristo – as
moradas celestiais –, enquanto aqueles que viveram apartados da
Verdade, representados pela palha, terão seu trágico destino.
Mas
depois do acima exposto, você deve estar se perguntando: "O que
é então ser batizado com o Espírito Santo?". Respondo:
a)
É ver o cumprimento da promessa feita por Jesus aos seus discípulos.
"E
eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na
cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder",
disse Jesus (Lucas 24:49).
b) É
ser capacitado para testemunhar de Cristo. "Mas
recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e
ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra",
diz a Palavra (Atos 1.8). É falar do amor de Deus, com
convicção e fidelidade. É ter o mesmo sentimento que Jesus. É
chorar com os que choram, é alegrar com os que se alegram.
Cristianismo sem compaixão e sem amor ao próximo não é
cristianismo: é apenas um arremedo de religião.
c) É
ser revestido por Deus. Isto é, somos batizados com o
Espírito Santo não para meramente falarmos em línguas dentro do
templo, mas para sermos revestidos por Deus e capacitados para
anunciarmos o Evangelho. Compare o apóstolo Pedro antes e depois do
Pentecostes: antes, andando desorientado pelo pátio do templo, a
ponto de negar a Cristo por três vezes consecutivas (Mateus
26.69-75). Depois, pregando a Palavra com autoridade e intrepidez a
ponto de, numa única pregação, três mil pessoas se converterem.
Assim, duvide daqueles que se dizem batizados com o Espírito Santo,
mas que vivem uma vida espiritual apática ou que com sua conduta
acabam testemunhando desfavoravelmente à causa de Cristo.
Finalizo
recomendando a leitura dos capítulos 12-14 da Primeira Carta de
Paulo aos Coríntios, onde o apóstolo dá claras orientações
acerca do exercício dos dons espirituais.
Espero
ter dado minha contribuição, por menor que tenha sido, para dirimir
dúvidas atinentes a esse assunto tão polêmico e controverso.
Soli
Deo Gloria
Alessandro
Cristian
[Síntese
da aula ministrada na EBD da Assembleia de Deus Ministério de Santos
– Jardim Gaivotas, Caraguatatuba/SP, em 23DEZ12.]
Bibliografia
(e leituras recomendadas):
BLEDSOE,
David Allen. Movimento Neopentecostal Brasileiro – IURD: Um Estudo
de Caso. São Paulo: Hagnos, 2012.
MACARTHUR,
John. O Caos Carismático. São José dos Campos/SP: Editora Fiel
(E-book).
OLIVEIRA,
Marco Davi de. A religião mais negra do Brasil – Por que mais de
oito milhões de negros são pentecostais. São Paulo: Mundo Cristão,
2004.
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Que Deus muito o abençoe.