O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Movimento Neopentecostal Brasileiro - Um estudo de caso (leitura recomendada)

Ao longo das últimas duas décadas o movimento neopentecostal brasileiro se espalhou notavelmente pelo país. As igrejas afiliadas ao movimento compõem o segmento evangélico que mais cresce. Alguns estimam que os adeptos representem mais de 42% da população pentecostal em geral. Além disso, elas têm diversificado de maneira significativa o cenário evangélico da nação.
Neste livro, o autor mostra dados preliminares sobre o neopentecostalismo brasileiro e a Igreja Universal do Reino de Deus – IURD. O texto vai discorrendo sobre o desenvolvimento do pentecostalismo brasileiro, desde o seu início e até o atual movimento da terceira onda. Segue-se uma análise de aspectos da IURD: seu fundador e líder principal, controvérsias e críticas à denominação, organização eclesiástica, principal via de ministério, mensagem fundamental e expansão no Brasil e no exterior.
Daí para frente, temos a exploração de fatores que facilitaram o crescimento da IURD e sua integração na sociedade brasileira. As áreas consideradas abrangem o ensino sobre a salvação, aspectos referentes à cosmovisão, dinâmica da comunhão, importância da contribuição financeira e sua interação social.
Diante do conteúdo apresentado, líderes eclesiásticos poderão compreender melhor a complexidade, ensinamentos, estratégias e práticas da IURD e de igrejas congêneres, bem como seu impacto missiológico. O leitor também entenderá como a IURD se encaixa no movimento neopentecostal e a diferença entre ela e a Igreja evangélica histórica.
Sinopse extraída do site da Editora Hagnos. 
Autor da obra: David Allen Bledsoe.
Soli Deo Gloria 
Alessandro Cristian  

sábado, 5 de janeiro de 2013

Os pentecostais, o batismo com o Espírito Santo e o "falar em línguas"

Na presente aula, serão apresentados fatos a respeito do chamado "batismo com [ou 'no'] Espírito Santo" apenas sob a perspectiva pentecostal. Assim, não iremos nos ater ao ponto de vista cessacionista, segundo o qual os dons espirituais se extinguiram ao final da era apostólica.
Cabe inicialmente apresentar um breve histórico do movimento pentecostal, conforme defendem as denominações cristãs que seguem tal vertente:
  • O Livro dos Atos dos Apóstolos narra o cumprimento da promessa bíblica acerca do derramamento do Espírito Santo sobre os cristãos, na seguinte conformidade: no capítulo 2 temos o relato do "Pentecostes" propriamente dito; no capítulo 8 vemos a descida do Espírito Santo sobre os samaritanos, no capítulo 10 sobre os gentios (na casa de Cornélio), e no capítulo 19 o Espírito vem sobre os judeus de Éfeso, que conheciam apenas o batismo de João.
  • Montano, no século II, afirmava que a Volta de Cristo seria em seu tempo, que o Reinado do Messias seria em sua vila, e que ele teria papel de destaque no Reino. Montano e suas seguidoras Priscila e Maximila, profetizavam e falavam em línguas ininteligíveis.
  • O embrião do atual movimento pentecostal pode ser percebido já no século XVIII, no metodismo de John Wesley.
  • Willian Parham, adepto do Movimento Holiness, funda o Betel College em 1900 (Kansas-EUA). Com um grupo de alunos, passa a "estudar" o Espírito Santo e incentiva seus alunos a buscarem o batismo.
  • Em 01-01-1901, Agnes Ozman é batizada.
  • Em 1905, Parham abre outra escola em Houston, Texas. Na referida escola, estuda Willian J. Seymour.
  • Em 1907, Willian H. Durham funda a North Avenue Mission, em Chicago. Nesse ambiente Willian Seymour aprende a mensagem pentecostal. Gunnar Vingren, Daniel Berg e Louis Francescon também foram expostos aos ensinos de Durham acerca do pentecostalismo.
  • Nessa mesma época, Seymour passa a pregar e ensinar a doutrina pentecostal na Rua Azuza, 312, Los Angeles. O grupo que ali se reunia era conhecido como Missão Apostólica da Fé.
  • Em 19 de novembro de 1910, Gunnar Vingren e Daniel Berg, missionários suecos, chegam ao Brasil. Essa data é considerada o início do movimento pentecostal brasileiro.
  • Poucos anos antes, Louis Francescon se estabelece no sul brasileiro, entre imigrantes italianos. Muda-se para São Paulo, e congrega na Igreja Presbiteriana do Brasil. Após pregar sobre o batismo no Espírito Santo, é expulso da denominação e em junho de 1910, com vinte seguidores, funda a Congregação Cristã no Brasil.
  • No dia 18 de junho de 1911, Vingren e Berg fundam a primeira igreja pentecostal em nosso solo, em Belém do Pará (Norte do País) utilizando o nome Missão Apostólica da Fé, de Willian J. Seymour, uma vez que eram oriundos daquela denominação.
  • Em 1914, a denominação fundada por Seymour tem o nome mudado para Assembly of God.
  • Em 1918, a "filial" brasileira também muda o nome, para Assembleia de Deus.
  • Em 1923, Aimee Semple McPherson funda a Igreja do Evangelho Quadrangular nos EUA. Em 1951 a denominação chega ao Brasil.
  • Na década de 1950 Manoel de Melo, dissidente da IEQ, funda a Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo.
  • Em 1961, o missionário David Martins Miranda, dissidente da Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, funda a Igreja Pentecostal Deus É Amor.
  • No final da década de 1960, Robert McAlister funda a Igreja de Nova Vida. Mc Alister serviu à Assembleia de Deus e, mais tarde, à Cruzada Nacional de Evangelização.
  • Em 1977 Edir Macedo, R.R. Soares e Roberto Augusto Lopes, oriundos da INV, iniciam a Igreja Universal do Reino de Deus em 1977.
  • Em 1980, Soares se desliga da denominação, cuja liderança é assumida por Macedo, e funda a Igreja Internacional da Graça de Deus.
  • Outras denominações mais recentes são a Comunidade Sara Nossa Terra e a Igreja Apostólica Renascer em Cristo (década de 1980).
  • Em 1998, Valdemiro Santiago, ex-líder da IURD, rompe com a denominação e funda a Igreja Mundial do Poder de Deus.
  • Fazem parte do pentecostalismo clássico, ou Primeira Onda: AD e CCB. Integram a Segunda Onda do pentecostalismo: IEQ, IPBC, IPDA. Já da Terceira Onda, também conhecida como neopentecostalismo: IURD, IIGD, IARC, IMPD (foram citadas somente as principais denominações).
Como sabemos, de acordo com a doutrina pentecostal, o batismo com o Espírito Santo é acompanhado por uma evidência inicial: o falar em línguas. No entanto, devem ficar claros os pontos abaixo relacionados:
a) Falar em línguas não é o mesmo que ser selado com o Espírito Santo. Sim, o "batismo" nada tem a ver com selo. Digo isso porque, infelizmente, é comum em nosso meio se ouvir que "fulano" foi selado, quando o mesmo fala em línguas pela primeira vez. Na realidade, o indivíduo é selado quando efetivamente passa a fazer parte do Corpo de Cristo, no ato de sua conversão. Nesse momento crucial de nossa vida, Cristo nos "sela" com o Espírito Santo, o qual passa a habitar em nós. Somos selados com o Sangue de Cristo, como se, numa metáfora, ele nos carimbasse e dissesse: "Esse é meu". Isso fica claro em Efésios 1.13: "Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa." Claro está que o versículo em apreço não faz qualquer alusão ao "falar em línguas", mas sim ao fato de que, uma vez que o homem ouve o Evangelho e nele crê, recebe o Espírito Santo como selo, como marca, indicando que, doravante, passa a pertencer a Cristo.
b) Falar em línguas não é um indicativo de que se é melhor do que os outros. Exatamente isso: o falar em líguas não torna os pentecostais melhores que ninguém, ao contrário do que muitos pensam. Aliás, conheço muitos crentes tradicionais que possuem a conduta muito mais ilibada, se preocupam muito mais com sua moral, buscam viver em santidade muito mais que alguns pentecostais que "se acabam" falando em línguas durante o culto e, findo o culto, ao sair da igreja, dão péssimo exemplo em sua vida social, profissional, conjugal, etc. Claro que esses não são a maioria. Os pentecostais de fato, via de regra, buscam seguir a Cristo e viver em obediência a Deus. Mas o diferencial desses não é o falar em línguas, mas sim a piedade e o amor ao próximo.
c) Quanto à suposta língua dos anjos: Que fique claro que as línguas faladas pelos pentecostais não é a língua dos anjos. Muitos assim interpretam com base no texto de I Coríntios 13. Porém, deve ser observado que na passagem bíblica em apreço o apóstolo Paulo fala em hipóteses: "Ainda que...". Ele não afirma que iria doar seus bens aos pobres, entregar seu corpo para ser queimado vivo, ou falar em línguas angelicais. Antes, sua intenção é deixar patente que, ainda que fizesse isso e tantas outras coisas, se não as fizesse por amor, não teria valor algum. Para tal, emprega casos extremos.
Além disso, como sabemos, nas Escrituras sempre que os anjos se comunicavam com alguém, empregavam o idioma humano para quem era direcionada a mensagem.
Lembremos também que as línguas faladas pelos discípulos em Atos 2 eram idiomas humanos, reconhecíveis pelos povos que as ouviam.
d) O Espírito Santo não deixa ninguém fora de controle. Pelo contrário, quanto mais o cristão busca ser cheio do Espírito, mais ele demonstra por meio de seus atos, palavras e atitudes, que é por Ele guiado. Lembremos que, de acordo com Gálatas 5.22, "o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança."
Ou seja, arroubos de histeria, gritos desconexos, atitudes robóticas e êxtases incontroláveis são diametralmente opostos aos efeitos produzidos pelo Espírito Santo em nossa vida. Ressalto ainda que, na Casa de Deus, tudo deve ocorrer dentro dos padrões de "decência e ordem" (I Co 14.40).
e) Batismo com o Espirito Santo e batismo com fogo são coisas distintas. Com base nas palavras de João Batista registradas em Mt 3.11, a absoluta maioria dos pentecostais crê que tais termos são sinônimos: "E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo." Porém, basta ler o versículo seguinte, e tudo se aclara: "Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará."
Ou seja, os versículos em apreço dizem respeito ao juízo de Deus: os cristãos que foram imersos no Espírito Santo e são sua morada representam o trigo, que será ajuntado nos celeiros de Cristo – as moradas celestiais –, enquanto aqueles que viveram apartados da Verdade, representados pela palha, terão seu trágico destino.

Mas depois do acima exposto, você deve estar se perguntando: "O que é então ser batizado com o Espírito Santo?". Respondo:
a) É ver o cumprimento da promessa feita por Jesus aos seus discípulos. "E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder", disse Jesus (Lucas 24:49).
b) É ser capacitado para testemunhar de Cristo. "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra", diz a Palavra (Atos 1.8). É falar do amor de Deus, com convicção e fidelidade. É ter o mesmo sentimento que Jesus. É chorar com os que choram, é alegrar com os que se alegram. Cristianismo sem compaixão e sem amor ao próximo não é cristianismo: é apenas um arremedo de religião.
c) É ser revestido por Deus. Isto é, somos batizados com o Espírito Santo não para meramente falarmos em línguas dentro do templo, mas para sermos revestidos por Deus e capacitados para anunciarmos o Evangelho. Compare o apóstolo Pedro antes e depois do Pentecostes: antes, andando desorientado pelo pátio do templo, a ponto de negar a Cristo por três vezes consecutivas (Mateus 26.69-75). Depois, pregando a Palavra com autoridade e intrepidez a ponto de, numa única pregação, três mil pessoas se converterem. Assim, duvide daqueles que se dizem batizados com o Espírito Santo, mas que vivem uma vida espiritual apática ou que com sua conduta acabam testemunhando desfavoravelmente à causa de Cristo.
Finalizo recomendando a leitura dos capítulos 12-14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, onde o apóstolo dá claras orientações acerca do exercício dos dons espirituais.

Espero ter dado minha contribuição, por menor que tenha sido, para dirimir dúvidas atinentes a esse assunto tão polêmico e controverso.

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

[Síntese da aula ministrada na EBD da Assembleia de Deus Ministério de Santos – Jardim Gaivotas, Caraguatatuba/SP, em 23DEZ12.]

Bibliografia (e leituras recomendadas):
BLEDSOE, David Allen. Movimento Neopentecostal Brasileiro – IURD: Um Estudo de Caso. São Paulo: Hagnos, 2012.
MACARTHUR, John. O Caos Carismático. São José dos Campos/SP: Editora Fiel (E-book).
OLIVEIRA, Marco Davi de. A religião mais negra do Brasil – Por que mais de oito milhões de negros são pentecostais. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.