Como sabemos, as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens – pessoa que age –, pelo espaço e pelo tempo. Destarte, com estagnação, inércia, não se escreve história. Seja ela fictícia ou real.
É fato que há vários gêneros no mundo da Literatura, e que esses gêneros subdividem-se em diversos outros. Contudo, na correria da vida, por vezes não nos apercebemos dessa variedade de estilos literários que nos cercam. Não enxergamos a poesia que permeia nosso dia-a-dia, não nos permitimos sonhar como se vivêssemos num conto, não comparamos os fatos como numa parábola antes de tomarmos decisões. Às vezes, em meio a devaneios e delírios, nos imaginamos em meio a uma fábula; contudo, dela não extraímos a imanente lição de moral.
Não obstante, por considerarmos a felicidade uma lenda, é comum, por distração, pouco ou nenhum cuidado termos ao escrever a crônica da vida.
Outrossim, seja qual for o estilo que adotamos para escrever as linhas de nossa existência, deve ali estar impresso nosso caráter, bem como nossa integridade. Física, moral e espiritual. Física, porque nossa vida deve expressar o cuidado que temos com nós mesmos e, por conseguinte, com nosso corpo. Moral, é óbvio, porque temos que demonstrar inteireza e retidão em nossas atitudes, idoneidade e conduta ilibada perante a sociedade. Espiritual porque devemos ter a consciência de que um dia havemos de prestar contas ao nosso Criador, e nosso comportamento, nossa representação perante Ele em muito influenciará esse encontro. Ele bem sabe se realmente colocamos sinceridade em nossos atos, se realmente somos aquilo que demonstramos ou se estamos meramente sendo canastrões.
Na realidade, somos eternamente atores representando a nós mesmos. O mais interessante é que não apenas representamos. Não apenas temos sobre os nossos ombros o peso de sermos os protagonistas. Também escrevemos e dirigimos, além de sermos os contra-regras, figurinistas e maquiadores nessa “novela da vida real” que é a nossa existência. Ou seja, devemos ter todo o cuidado do mundo, mesmo nos mínimos detalhes, para que todas as cenas, atos e falas saiam conforme o previsto. Devemos ao máximo nos esmerarmos para não cometermos gafes, esquecermos o texto. Nem sempre contracenamos com alguém que possa nos dar a deixa; por vezes apresentamos um monólogo, somos o único foco das atenções. Mas uma coisa é certa: por maior que seja a dificuldade que encontramos na cena, nunca estamos sozinhos: aquele que concebeu nosso personagem observa todos os nossos passos e pronto está a amparar, animar, auxiliar e ensinar sempre que necessário. E não são poucas as vezes que precisamos.
Conveniente ressaltar o valor das minúcias. Por menores que sejam os pormenores, todos tem seu grau de importância e influenciam no resultado final. Logo, todo cuidado é pouco para que tudo saia conforme planejamos.
E cada dia de vida, no qual temos a oportunidade de representarmos a nós mesmos, dando direção ao desfecho, é uma dádiva, um presente vindo do alto. O que não podemos é cair no erro de crermos num fatalismo, numa percepção ingênua ou mágica da realidade. Como seres históricos que somos, não basta estar “no” mundo: é necessário estar “com” o mundo.
Dessa maneira, cada dia de vida é um capítulo escrito na história de nossa existência. Continuemos, pois, a escrever nossa história. E uma história não se escreve só com uma página. Sigamos, pois, e prossigamos cumprindo nossa missão. Ghost-writers de nós mesmos. E que venha o próximo capítulo.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian