O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Cortador, migrador, devorador e destruidor? Não podem estar falando sério...

Há algum tempo estou ensaiando para escrever esse texto, pois sei que é polêmico e fere um ensino errôneo que durante décadas tem sido passado de geração para geração nas igrejas. Não dá mais para protelar.
Prezados, sinceramente, não dá pra entender como alguém que se diz liberto por Cristo e, por conseguinte, livre da maldição da lei, ao mesmo tempo afirmar que aquele que não é dizimista, nos moldes do texto contido no capítulo 3 do livro do profeta Malaquias, é amaldiçoado.
Não dá para entender como alguém com um mínimo de discernimento, conhecimento bíblico e histórico pode acreditar e pregar usando os termos “cortador, migrador e devorador” totalmente fora do contexto, querendo aplicar um texto do Antigo Testamento como se tivesse um peso de decreto divino à igreja.

Mas o que são afinal de contas, à luz da Bíblia, esses nomes que causam tanto medo nos cristão incautos que frequentemente são submetidos a pressão psicológica com a menção dos mesmos? Simples. Quando a Bíblia diz “E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra” (Malaquias 3.11), em lugar de “devorador” leia-se como sinônimo a palavra “gafanhoto”.

E o cortador e o migrador, o que são? Também são gafanhotos. Isso fica claro após a leitura de Joel 1.4 (Almeida Revista e Atualizada): “O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor”.
Na ocasião, resumidamente, Judá havia acabado de ser devastada por uma praga de gafanhotos e o profeta Joel, inspirado pelo Espírito Santo exorta o povo a se voltar a Deus, em arrependimento, pois o juízo era iminente.
Mas aí os camaradas querem espiritualizar e afirmam que a nomenclatura supramencionada trata de classes de espíritos malignos que trabalham em desfavor daquele que não é dizimista. Alguns vão ainda mais longe e afirmam que é uma classe de demônios que, para estar imune, não adianta orar, jejuar, santificar a vida... Nada disso resolve. “Você só estará livre do devorador, do cortador e do migrador”, afirmam, “a partir do momento em que entregar seu dízimo”. Em uma breve navegação na web fiquei espantado com a imaginação dos "pastores" ao escrever sobre o tema. Eis o título de alguns artigos: "Os demônios gafanhotos", "Os exterminadores de riquezas", "Quebra da maldição dos gafanhotos", "Os gafanhotos do inferno" (!!??!!??), etc.
Esse dualismo, que coloca forças opostas no mesmo patamar que o Bem Supremo, acaba por negar: 1) a eficácia do sacrifício salvífico de Cristo; 2) a necessidade de constante oração e jejum; e 3) a necessidade de vigilância e santificação. Afinal, segundo se apregoa, só a entrega do dízimo pode proteger seu celeiro e (pasmem!) sua saúde. Tal doutrina espúria traz em seu bojo afirmações ameaçadoras, do tipo: “O dinheiro que você não entregar como dízimo na igreja acaba entregando na farmácia!”.
O que dizer então da máxima estampada nas paredes de incontáveis igrejas ao redor do mundo: “Dizimista fiel tem crédito no céu”.
Dessa forma, Deus acaba sendo tratado como um ser mitológico cuja ira, para ser aplacada, necessita de dinheiro, como alguns deuses pagãos para quem são atiradas moedas visando à proteção contra os males ou à realização de pedidos.
Definitivamente, Deus não está nem um pouco interessado em seu dinheiro, mas sim com a intenção de seu coração. Com as reais motivações que o levam a entregar a décima parte de seus proventos e a ofertar na igreja. Deus não está preocupado se você entrega pouco ou muito (exemplo clássico observa-se no texto de Lucas 21.1-4, sobre a viúva pobre), mas com a disposição de seu íntimo durante a entrega. Se estamos de fato preocupados com o progresso de Sua obra na Terra ou se contribuímos por obrigação, visando unicamente a retribuição divina. Se o meu e o seu dízimo tem sido dado em reconhecimento ao senhorio de Cristo sobre todas as áreas de nossa vida, inclusive de nossas finanças, ou se o fazemos como se quitando apenas mais um carnê mensal.

Qual é então o padrão do Novo Testamento para contribuição financeira? “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (II Coríntios 9.6). Quer dar mais, dê. Sim, Deus ama ao que dá com alegria.

Quer dar menos? Não vai perder a salvação por isso, no entanto lembre-se que, se assim o fizer, estará implícita com sua atitude: 1) sua dúvida se Deus é ou não poderoso para suprir suas necessidades; e 2) sua despreocupação e negligência para com a obra.

“Ah, mas Mateus 23.23 fica no Novo Testamento e ali Jesus falou sobre o dízimo”, poderão afirmar alguns, como eu também já o fiz. Sim, no entanto:

1º) Embora o texto em apreço esteja registrado no Novo Testamento, Jesus dirigiu tais palavras aos judeus, que deviam cumprir a Lei. O Mestre ainda não havia sido crucificado, sepultado, e por isso (lógico) não havia ainda ressuscitado. Dessa maneira, claro está que não se vivia ainda na Dispensação da Graça, mas da Lei.

2º) A ênfase não está no dízimo em si, mas no desprezo ao “mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé”.
É fato que a Carta aos Hebreus também traz algumas vezes a palavra dízimo, mas sempre referenciando o “sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei)” (Hebreus 7.11), que não se aplica diretamente à igreja. Não é a intenção do escritor da epístola dissecar a doutrina veterotestamentária dos dízimos, mas sim expor a superioridade de Cristo.
Bom, por hora é só.
Agora é esperar as pedradas dos “teólogos” e “doutores da lei” presentes nas sinagogas malaquianas por muitos chamadas de igrejas...
PS: Sou dizimista. Por amor à obra do Senhor, e não por medo do "migrador, devorador e cortador".

Soli Deo Gloria

Alessandro Cristian (militar, graduado em Pedagogia, pós-graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional, pós-graduando em Estudos Teológicos, presbítero e incomodado com as distorções da Palavra e com as aberrações que andam sendo feitas em Nome de Deus)