Passadas
três semanas da estreia de "Logan", penso ser o momento ideal para a
postagem do presente texto.
Isso
porque aqueles que são fãs do personagem, bem como aqueles que se interessam
por filmes baseados em HQ em geral, certamente já assistiram ao filme (talvez
mais de uma vez, como é o meu caso). Logo, não vão se importar com os spoilers.
Já os
demais, que ainda intentam assistir à película, peço que interrompam por aqui a
leitura (a não ser que não se importem, claro).
A
finalidade do presente texto é demonstrar paralelos entre cenas e diálogos do
filme em questão com passagens da Bíblia Sagrada.
Óbvio que
aqui veremos doses generosas de "viagens" deste signatário. Não quero
dizer que o autor/diretor teve a intenção de citar as Escrituras, tampouco
nelas se inspirou. Trata-se apenas de um ponto de vista.
Isto
posto, vejamos alguns desses momentos:
1) Aos
primeiros minutos do filme, num diálogo no interior do tanque no qual vive o
Professor Xavier, Logan retruca:
"-
Você sempre achou que fazíamos parte do plano de Deus, mas na verdade somos um
erro de Deus".
Quando
algo não acontece exatamente como o planejado, ou quando algo que nos contraria
a vontade acontece, mormente a primeira reação do
ser humano é culpar a Deus. Reconheçamos que é dificílimo afirmar "Seja
feita a vossa vontade", quando o que mais gostaríamos é que fosse feita a
nossa vontade. E, como sabemos, é fato que nem tudo acontece de acordo com o
que planejamos. Assim, as decepções fazem parte da vida de qualquer um.
No que
diz respeito àquela revolta que vez por outra toma conta de nosso ser por
algumas peculiaridades que apresentamos - aparência física, temperamento,
classe social, etc., cabe-nos relembrar os seguintes textos:
"Ai
daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro!
Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens
mãos?" (Isaías 45.9)
"Mas,
ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao
que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não
tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra
e outro para desonra?" (Romanos 9.20, 21)
2) Percebendo
que o aprisionado Caliban reluta em usar seus dons para ajudar na localização
de Logan, Xavier e Laura, Donald Pierce dispara: "- Você jogava no meu
time, ajudou a matar todos os velhos mutantes... O que aconteceu? Entrou para a
igreja?"
Observamos
em nossa sociedade o quão comum é essa confusão feita entre a real conversão de
alguém com a mera mudança de religião.
Penso que
a intenção de Pierce (ou do roteirista, como queira) era, na verdade questionar
se Caliban havia se convertido ao cristianismo, haja vista sua patente mudança
de comportamento e de ideias - uma verdadeira metanoia.
Claro
está que, arrependido de seus serviços prestados àqueles que pretendiam
exterminar os mutantes, Caliban decidiu, de fato, "mudar de time",
como zombou Pierce.
Poderíamos
citar diversos versículos bíblicos relacionados à conversão, mas creio que
somente Efésios 5.11 seja o suficiente para ilustrar o caso de Caliban: "E
não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém,
reprovai-as".
3) O
momento em que Caliban, aprisionado por Pierce e sua trupe, numa das cenas de
batalha obtém êxito em alcançar duas granadas, detonando-as dentro do
furgão/cativeiro em que se encontrava. Conquanto tenha sido um ato suicida, a
qual teve por escopo criar oportunidade para a fuga de Logan e Laura, certamente
levou consigo alguns dos opositores. A referida cena me lembrou, guardadas as
devidas proporções, do momento derradeiro de Sansão, ocasião em que empurrou
duas colunas do templo de Dagom, fazendo-o cair sobre aqueles que o
aprisionaram e dele faziam chacota.
Pude
imaginar Caliban clamando, à maneira do citado juiz de Israel: “Morra eu com os
filisteus!” (Juízes 16.30). Ou, numa paráfrase, “Morra eu com aqueles que nos
perseguem!”.
4) Ao
chamar a atenção de Logan, em um dos diálogos Charles Xavier brada: "-
Seja como o resto do mundo que culpa as outros por suas próprias merdas!".
Ou seja, alude à transferência de responsabilidade, tão comum no ser humano.
Afinal, sempre foi muito mais fácil imputar a culpa ao próximo ao invés de
assumi-la. Tudo começou no Éden:
"E
chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?
E ele
disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.
E Deus
disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei
que não comesses?
Então
disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e
comi.
E disse o
Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me
enganou, e eu comi." (Gênesis 3:9-13)
5) Na
cena final do filme – quem diria que um dia veríamos o Carcaju chorar... – , agonizando
e com Laura/X-23 chorando ao seu lado, Logan profere suas últimas palavras: “–
Não seja aquilo que fizeram de você...” e “– Então essa é a sensação de ter uma
filha...”.
Quem é
pai (ou mãe) bem sabe a que Logan se refere. Acredito que ser pai é a maior
bênção que já me foi concedida. “Eis que os filhos são herança do Senhor (...)”
(Salmos 127.3).
6) Na
cena que se passa no quarto do hotel, Professor Xavier e Laura assistem ao
filme "Os brutos também amam", no qual em um dos momentos percebe-se
os atores em meio a um sepultamento recitando a oração do "Pai nosso"
(Mateus 6.9-13).
7) A
película tem sangue, muito sangue... Chega a lembrar o Antigo Testamento.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian