"E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão e nas orações". (Atos 2.42)
O texto em apreço nos retrata algumas características da igreja nos
primórdios do cristianismo. Essas qualidades deviam estar presentes
também na igreja de nossos dias, embora por vezes não estejam. São
elas: a perseverança no ensino disseminado pelos apóstolos à
cristandade, a comunhão, o partir do pão e as as contínuas
orações.
Observando tais características, podemos afirmar com convicção que
todas elas convergem para a comunhão, bem como por ela são alinhavadas.
1) Se os irmãos perseveram de maneira unânime nas doutrinas
bíblicas, isso é um indicativo de que há comunhão entre eles. É
um sinal de que a singeleza de coração e a humildade encontram
guarida em suas vidas. Do contrário, cada um seguiria aquilo que lhe
apraz e, ao invés de humildade, haveria soberba e sentimento de
superioridade dentre os crentes. "Oh! Como é bom e agradável
viverem os unidos os irmãos!" (Sl 133.1).
Negar as doutrinas cardeais da nossa fé corresponde a permitir a
entrada de heresias e invencionices em nosso meio. E isso pode minar
a comunhão do homem com Deus e com seu próximo.
2) O "partir do pão" contava com um significado especial
dentre os judeus. Significava intimidade, união, igualdade de
propósitos. Só realizamos refeições em conjunto com aqueles que
são de nossa estima, em cuja companhia temos prazer. Com o advento
da Ceia do Senhor, tal significado foi exponencializado. Além da
denotação já existente, o termo foi encorpado com o sentido
espiritual. Hoje, o "partir do pão" está intrinsecamente
relacionado ao anúncio do sacrifício vicário de Cristo e, por
conseguinte, à comunhão que temos uns com os outros enquanto Corpo,
e à comunhão que temos com o Cabeça desse Corpo.
3) Quanto às orações, é fato que a falta de comunhão com o Pai e
com Seus filhos faz com que, via de regra, nossas palavras se tornem
mera verborragia solta ao vento.
Etimologicamente, a palavra comunhão vem do grego koinonia,
que originalmente significa comunidade, isto é, o viver em
comunidade, estar na companhia daqueles que possuem os mesmos
propósitos. Companhia, a propósito, vem do latim cum panis,
que quer dizer comer pão juntos, assentar-se à mesa com aqueles
cujos ideais são os mesmos nossos.
Estar em comunhão é se preocupar com o outro. É sentir a dor do
irmão. É chorar com os que choram. É alegrar-se com os que se
alegram. Justamente por isso a Bíblia nos apresenta cerca de
cinquenta dos chamados "mandamentos mútuos", ou
"mandamentos de reciprocidade", dentre os quais encontramos
os seguintes:
- Amai-vos uns aos outros (Jo 13.34);
- Acolhei-vos uns aos outros (Rm 15.7);
- Saudai-vos uns aos outros (Rm 16.16);
- Tende igual cuidado uns pelos outros. (I Co 12.24-25);
- Sujeitai-vos uns aos outros. (Ef 5.18-21);
- Suportai-vos uns aos outros. (Ef 4.1-3 e Cl 3.12-14);
- Confessai os vossos pecados uns aos outros. (Tg 5.16);
- Perdoai-vos uns aos outros. (Ef 4.31-32 e Cl 3.12-13);
- Não vos julgueis uns aos outros. (Rm 14.13);
- Não faleis mal uns dos outros. (Tg 4.11);
- Não vos provoqueis uns aos outros. (Gl 5.25-26);
- Não tenhais inveja uns aos outros. (Gl 5.25-26);
- Não mintais uns aos outros. (Cl 3.9-10);
- Edificai-vos uns aos outros. (I Ts 5.11);
- Instrui-vos uns aos outros. (Cl 3.16);
- Exortai-vos uns aos outros. (I Ts 5.11);
- Falai uns aos outros com salmos e hinos e cânticos e cânticos espirituais. (Ef 5.18-20);
- Admoestai-vos uns aos outros (Rm 15.14);
- Levai as cargas uns dos outros. (Gl 6.2);
- Sede benignos uns para com os outros. (Ef 4.31-32);
- Orai uns pelos outros. (Tg 5:16).
Sem comunhão, não há vida cristã. Sem comunhão, a vontade do Pai
não é feita. Sem comunhão (falo aqui da comunhão com Deus), não
há salvação.
Soli Deo Gloria
Alessandro Silva
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Que Deus muito o abençoe.