Para nossa meditação, apresento na presente postagem algumas considerações a respeito da conversão do apóstolo Paulo, registrada no capítulo 9 do livro dos Atos dos Apóstolos. Para tal, peguemos os 9 primeiros versículos do referido capítulo:
"E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer. E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco. E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu."
1) A narrativa daquela que é conhecida como a "conversão mais importante da história" começa nos informando que Saulo, "o perseguidor que se tornou perseguido", solicitou ao sumo sacerdote cartas para que pudesse destruir cristãos e, por conseguinte, barrar o crescimento do cristianismo. No entanto, o plano de Deus era usá-lo para um fim nobre. O homem que pediu cartas para destruir cristãos e brecar a expansão do cristianismo, foi o instrumento usado por Deus para escrever cartas com a finalidade de edificar os cristãos e expandir o cristianismo. Esse é o Deus que transforma água em vinho, e muda situações em nosso favor, conforme sua Santa e Soberana vontade.
2) "Subitamente o cercou um resplendor de luz do céu": a Luz representa o Senhor, em contraste com as trevas predominantes em uma vida apartada de Deus. Essa ilustração é fantástica: quando nos encontramos em um recinto escuro, nossos olhos ficam ofuscados quando a luz é acesa, dificultando momentaneamente nossa visão. No entanto, quando nos acostumamos com a claridade, enxergamos o que até então nos estava oculto. Dessa maneira, ao ver a Luz, Paulo fica cego durante três dias. Após a oração de Ananias (Atos 9.17,18), ele passa a compreender as Escrituras que, não obstante seu zelo, lhes eram ocultas.
3) O texto nos diz que ao ver a Luz, Paulo caiu por terra. Embora não esteja explícito no texto, tudo indica que estivesse montado a cavalo ou em algum veículo de tração animal, já que Jerusalém distava de Damasco mais de duzentos quilômetros, sendo improvável que tal trajeto fosse na ocasião percorrido a pé. Com isso quero dizer que, por vezes, Deus permite que caiamos do cavalo para que venhamos a compreender Sua vontade e Seus propósitos. E até mesmo para repensarmos nosso modus vivendi.
4) "Saulo, Saulo, por que me persegues?", ecoou a mesma voz que criou o Universo. Mas, espera aí: Paulo perseguia o Messias ou os cristãos? Resposta: os cristãos. Daí, depreende-se que aquele que persegue os cristãos não está combatendo contra homens, mas contra o próprio Deus: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues", disse o Mestre a Paulo.
5) Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões: de acordo com a literatura grega antiga, essa expressão tinha a conotação de "teimosia", ou "oposição aos desígnios divinos". O que é o homem para contender com Deus, para querer medir forças com o Criador, para disputar cabo-de-guerra com o Todo Poderoso, para competir braço-de-ferro com o Soberano? Muitos já tentaram, mas como Paulo, acabaram "caindo do cavalo". E sofreram com a queda.
6) Ao se levantar do tombo, Paulo teve que ser levado pela mão. Aquele homem imponente, que possuía carta branca das autoridades para conduzir cristãos à prisão, agora precisava ser conduzido para onde quer que fosse. Aquele aparentemente poderoso homem tinha agora sua fragilidade desvelada. O cidadão zeloso pela Lei, instruído aos pés de Gamaliel, se via impotente, não obstante toda a sua carga de conhecimento e cultura judaica acumulada ao longo dos anos. Aqui aprendemos que não importa quantos cursos de pós-graduação possuímos, quantos diplomas temos pendurado na parede, ou mesmo os anéis que ostentamos nos dedos. Se tudo isso não for utilizado com humildade e desprendimento em prol do Reino, nenhum valor possui.
7) Após o encontro, Paulo ficou três dias estático, sem ver, sem comer, sem beber. Mais uma vez friso que todo o conhecimento e reconhecimento que possamos ter diante dos homens não significa nada diante de Deus. Lembro que basta a picada de um mosquito para derrubar um homem. Em suma, somos frágeis ao extremo. Como nos diz a Palavra, "Todos esperam de ti, que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno. Dando-lho tu, eles o recolhem; abres a tua mão, e se enchem de bens. Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras o fôlego, morrem, e voltam para o seu pó" (Salmo 104.27-29).
Que o Deus que tem nossa vida em Suas mãos nos abençoe e nos ajude.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
Imagem: A conversão de Paulo, do pintor italiano Caravaggio (1571-1610).
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Que Deus muito o abençoe.