A grande questão inicial é:
como falar a respeito do perdão sem que o discurso pareça mera
demagogia ou hipocrisia? Sim, principalmente porque simplesmente
emitir assertivas do tipo “perdoem uns aos outros”, “não
guarde rancor” e “ame a seu irmão”, como vemos frequentemente
em nosso meio, soa um tanto vazio e dissociado da realidade que bem
conhecemos.
Um exemplo básico temos em
certo líder, que por sinal é proprietário da editora responsável
pela elaboração das revistas que utilizamos na escola bíblica
dominical: em seu programa televisivo, transmitido em rede nacional,
os sessenta minutos de duração são mormente utilizados na seguinte
proporção aproximada [grosso modo]: quinze minutos utilizados na
pregação, quinze minutos utilizados em propagandas, quinze minutos
utilizados para a solicitação de ofertas e quinze minutos para o
referido líder vociferar abertamente contra seus detratores.
Pessoas escrevem livros e
textos teóricos sobre o perdão. Mas... E a prática?
Para compreendermos essa
dificuldade em perdoar, falemos de maneira breve sobre os atributos
de Deus. Sabemos que eles se dividem em incomunicáveis e
comunicáveis.
Dentre os atributos
incomunicáveis, comumente citamos a onipotência, a onipresença, a
onisciência, a transcendência e a imanência. Esses pertencem
exclusivamente a Ele, e não há possibilidade de que outro ser os
possua, tampouco que Ele os divida com outrem.
Já dentre os atributos
comunicáveis, isto é, aqueles que Deus graciosamente “reparte”
conosco, podem ser contados, dentre outros: o amor, a bondade, a
benignidade, a longanimidade e a misericórdia. Esse último em
especial [alinhado com os demais], dizem respeito ao exercício do
perdão.
Para aclarar a dificuldade
em perdoar inerente ao ser humano, basta que observemos que tais
atributos em Deus são absolutos, afinal “n’Ele não há mudança
nem sombra de variação”. Já quanto aos homens, por melhores que
eles sejam, seu amor é imperfeito, sua bondade é parcial, sua
benignidade é opaca, sua longanimidade é estreita e seu perdão é
seletivo.
Ou seja, nas incontáveis
passagens bíblicas em que somos orientados a perdoar o próximo,
obviamente o Mestre leva em conta o fato de que não conseguimos e
não sabemos perdoar como Ele perdoa. Mas Ele bem sabe se temos ou
não nos esforçado para tal.
Levemos em consideração as
palavras contidas no “Pai nosso”: “E
perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores” [Mateus 6:12].
“Assim como”, isto é,
“da mesma maneira que”. Impensadamente, muitos estão assinando
sua condenação ao repetir a oração que nos foi ensinada pelo
Senhor. Estão dizendo, por tabela: “Pai, não me perdoe porque eu
não tenho perdoado meus ofensores, e muitas vezes sequer tenho
tentado”.
O próprio Jesus explica
mais adiante no mesmo capítulo do Evangelho segundo escreveu Mateus:
“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso
Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as
vossas ofensas”. [v. 14, 15]
Enquanto Deus, quando
perdoa, lança nossos pecados “no mar do esquecimento”, nós
quando perdoamos lançamos os pecados de que somos vítimas, no
máximo, em uma bacia rasa. Tanto é que não hesitamos em retirá-los
de lá na primeira oportunidade e lançá-los no rosto dos ofensores.
O perdão despedaça jugos,
alivia os ombros, restaura relacionamentos
Sim, reitero a idéia de que
perdoar não é tarefa fácil. Como alguém já disse, errar é
humano, perdoar é divino. E como costumamos dizer, perdoar é para
os fortes. Haja força. Só mesmo aquela que provém do Espírito de
Deus. Porque, de nós mesmos, o máximo que conseguimos é suportar
uns aos outros. Quando conseguimos.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
[Síntese da aula ministrada
na EBD da Assembleia de Deus Ministério de Santos - Jardim Gaivotas, Caraguatatuba/SP, em 11NOV12.]
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Que Deus muito o abençoe.