O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

sábado, 10 de junho de 2017

Os gêneros literários e o texto de nossa existência

Como sabemos, as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens – pessoa que age –, pelo espaço e pelo tempo. Destarte, com estagnação, inércia, não se escreve história. Seja ela fictícia ou real. 
É fato que há vários gêneros no mundo da Literatura, e que esses gêneros subdividem-se em diversos outros. Contudo, na correria da vida, por vezes não nos apercebemos dessa variedade de estilos literários que nos cercam. Não enxergamos a poesia que permeia nosso dia-a-dia, não nos permitimos sonhar como se vivêssemos num conto, não comparamos os fatos como numa parábola antes de tomarmos decisões. Às vezes, em meio a devaneios e delírios, nos imaginamos em meio a uma fábula; contudo, dela não extraímos a imanente lição de moral.
Não obstante, por considerarmos a felicidade uma lenda, é comum, por distração, pouco ou nenhum cuidado termos ao escrever a crônica da vida.
Outrossim, seja qual for o estilo que adotamos para escrever as linhas de nossa existência, deve ali estar impresso nosso caráter, bem como nossa integridade. Física, moral e espiritual. Física, porque nossa vida deve expressar o cuidado que temos com nós mesmos e, por conseguinte, com nosso corpo. Moral, é óbvio, porque temos que demonstrar inteireza e retidão em nossas atitudes, idoneidade e conduta ilibada perante a sociedade. Espiritual porque devemos ter a consciência de que um dia havemos de prestar contas ao nosso Criador, e nosso comportamento, nossa representação perante Ele em muito influenciará esse encontro. Ele bem sabe se realmente colocamos sinceridade em nossos atos, se realmente somos aquilo que demonstramos ou se estamos meramente sendo canastrões.
Na realidade, somos eternamente atores representando a nós mesmos. O mais interessante é que não apenas representamos. Não apenas temos sobre os nossos ombros o peso de sermos os protagonistas. Também escrevemos e dirigimos, além de sermos os contra-regras, figurinistas e maquiadores nessa “novela da vida real” que é a nossa existência. Ou seja, devemos ter todo o cuidado do mundo, mesmo nos mínimos detalhes, para que todas as cenas, atos e falas saiam conforme o previsto. Devemos ao máximo nos esmerarmos para não cometermos gafes, esquecermos o texto. Nem sempre contracenamos com alguém que possa nos dar a deixa; por vezes apresentamos um monólogo, somos o único foco das atenções. Mas uma coisa é certa: por maior que seja a dificuldade que encontramos na cena, nunca estamos sozinhos: aquele que concebeu nosso personagem observa todos os nossos passos e pronto está a amparar, animar, auxiliar e ensinar sempre que necessário. E não são poucas as vezes que precisamos. 
Conveniente ressaltar o valor das minúcias. Por menores que sejam os pormenores, todos tem seu grau de importância e influenciam no resultado final. Logo, todo cuidado é pouco para que tudo saia conforme planejamos.
E cada dia de vida, no qual temos a oportunidade de representarmos a nós mesmos, dando direção ao desfecho, é uma dádiva, um presente vindo do alto. O que não podemos é cair no erro de crermos num fatalismo, numa percepção ingênua ou mágica da realidade. Como seres históricos que somos, não basta estar “no” mundo: é necessário estar “com” o mundo.
Dessa maneira, cada dia de vida é um capítulo escrito na história de nossa existência. Continuemos, pois, a escrever nossa história. E uma história não se escreve só com uma página. Sigamos, pois, e prossigamos cumprindo nossa missão. Ghost-writers de nós mesmos. E que venha o próximo capítulo.

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

sábado, 6 de maio de 2017

Facebook ou Fakebook?

Na qualidade de possuidor de perfil no Facebook há quase 10 anos, e considerando o que tenho presenciado na aludida rede social durante esse período, passo a elencar algumas razões pelas quais entendo que tal nome merece ser alterado para Fakebook. Vejamos os fatos:
1. As pessoas agem como se suas vidas fossem um eterno feriado, uma felicidade contínua. Assim, pinçam alguns momentos aproveitáveis de suas (na realidade) enfadonhas vidas e as transformam em postagens, com o objetivo de aparentarem isenção às dificuldades, dores e aflições da vida.
2. As pessoas editam suas fotos para utilizá-las no perfil, de maneira que aparentem ter pelo menos vinte anos a menos do que realmente possuem.
3. As pessoas postam indiretas diariamente, já que não contam com a hombridade e a coragem necessárias para proferir o que pensam diretamente a seus desafetos.
4. As pessoas adicionam a seu rol de amizades centenas de usuários que sequer conhecem, ou com as quais tiveram o mínimo contato, somente para parecerem populares ou “importantes”.
5. As pessoas te enviam convite para amizade virtual, no entanto, quando te encontram pessoalmente, fingem que não te conhecem.
6. As pessoas atam relacionamentos à distância, via de regra ilusórios, não atentando para o fato de que “relacionamento virtual” é contradição de termos, uma vez que relacionamento denota contato ou proximidade física entre as partes.
7. As pessoas, conquanto em sua maioria não sejam especialistas ou, em parte dos casos, possuam conhecimento raso nos assuntos a que se propõe postar e debater, agem como se fossem verdadeiros Ph.D. nas mais diversas áreas.
8. As pessoas citam frases pinçadas alhures, atribuindo a si mesmos a autoria das ideias, muito embora sequer conheçam as regras mínimas do vernáculo.
9. As pessoas hipocritamente apresentam na rede social o exato oposto daquilo que vivem em seus cotidianos.
10. As pessoas, mormente os mais jovens, periodicamente postam fotos com seu novo amor eterno, acompanhados de juras que não resistem ao primeiro desentendimento. Como disse o poeta popular, “eternidade da semana”.

PS 1: Pensando bem, conforme observa-se acima, apesar de o Facebook merecer o epíteto “Fakebook”, o grande problema reside em parte das pessoas que o utilizam, e não na rede social propriamente dita. Aliás, como rede social, é um grande instrumento de comunicação e informação. Basta ser utilizado de maneira coerente.

PS 2: Para cada um dos casos elencados há exceções, óbvio.


PS 3: Inacreditável que milhares de “adultos” acreditem e percam tempo com aplicativos do tipo “Qual a primeira letra do nome do seu futuro par?”, “Com qual celebridade você se parece”, e asneiras congêneres. Para adolescentes que estão descobrindo o mundo tais testes podem até ser aceitáveis, mas para trintões, trintonas, quarentões, quarentonas, e até cinquentões e cinquentonas isso é, no mínimo, horrível.

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

sábado, 8 de abril de 2017

Kurt Cobain: ganhou o mundo, mas perdeu a alma...

No dia 08 de abril de 1994, isto é, há vinte e três anos, a estrutura do showbusiness foi abalada por uma notícia estarrecedora: Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, havia sido encontrado morto em seu apartamento (em Seattle) por um eletricista, contratado para consertar o sistema de alarme da residência. Kurt estava com uma arma sobre o peito, apontando para o queixo. De acordo com os médicos responsáveis pela autópsia, o líder da banda mais influente da década de 1990 havia morrido (com um tiro na cabeça) a cerca de 48 horas da descoberta. 
Em 1991, com o lançamento de “Nevermind”, seu 2º álbum, o Nirvana tornou-se mundialmente conhecido. Desbancou do topo das paradas de sucesso algumas das “instituições” do pop, como Michael Jackson e Guns’n’Roses, fato inédito para uma banda recém saída do underground. A música “Smells like teen spirit” foi uma das mais executadas daquele ano, e seu estilo serviu de inspiração para a maioria, se não todas as bandas daquela década, inclusive aqui no Brasil.
À época, de repente todo mundo queria colocar guitarras distorcidas nas músicas e usar uma camisa xadrez de flanela amarrada à cintura. Desde então, até nas músicas infantis percebemos certo peso e distorção nas guitarras.
Músicas com estrutura do tipo “parte lenta, quase sussurrada + explosão no refrão” viraram febre, e passaram a fazer parte até do cancioneiro gospel.
O Nirvana foi, incontestavelmente, o responsável pela popularização do “rock de garagem”, o chamado rock alternativo, naquela ocasião denominado grunge. Até então o rock que dominava a grande mídia era a “farofa” do tipo Bon Jovi, Guns’n’Roses e similares.
Indubitavelmente, o estilo niilista do Nirvana era o reflexo do way of life de Kurt Cobain.
Calcula-se que, até hoje, Nevermind vendeu cerca de 35 milhões de cópias. Claro que Kurt, enquanto underground, desejava fazer sucesso. Se assim não o fosse, não teria assinado contrato com uma grande gravadora. O que provavelmente ele não queria era o pacote que acompanha o sucesso: fãs histéricos, falta de privacidade, pressão para continuar a compor canções bem-sucedidas, turnês intermináveis.
Dessa maneira, tudo isso aliado aos seus constantes problemas com drogas e com sua esposa, Courtney Love, levaram Cobain a cometer o suicídio provavelmente em 06 de abril de 1994, quando então tinha 27 anos (alguns questionam se a morte foi causada por suicídio ou homicídio - não vem ao caso).
Diante da história desse homem, impossível não se lembrar das palavras de Jesus registradas no Evangelho de Mateus, capítulo 16, versículo 26: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?”.
Kurt ganhou o mundo inteiro. Chegou ao topo das paradas pop. Recebeu rios de dinheiro. Tornou-se mundialmente conhecido. Apareceu em todos os órgãos de imprensa.
Mas perdeu sua alma. Não estou com isso querendo dizer que ele foi para o inferno, ou mandá-lo para lá. Só Deus pode fazê-lo ou não. Não estou falando que é para lá que Kurt foi. Não sabemos o que se passou naquela mente em seus últimos instantes, e menos ainda quanto ao lugar em que ele estará na eternidade. Mas Deus sabe.
No entanto, chamo a atenção para o fato de que a palavra “alma” também pode significar “vida”, “ânimo”, “coragem”, “sentimentos”. Nesse sentido, sem dúvida ele perdeu sua alma. Sua vida. Seu ânimo. Sua coragem de prosseguir. Seus sentimentos. Tudo isso em decorrência de ter ganho o mundo.
Enfim, ganhou o mundo, mas perdeu a alma. Infelizmente.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian                                          

sexta-feira, 24 de março de 2017

"Logan" e a Bíblia

Passadas três semanas da estreia de "Logan", penso ser o momento ideal para a postagem do presente texto.
Isso porque aqueles que são fãs do personagem, bem como aqueles que se interessam por filmes baseados em HQ em geral, certamente já assistiram ao filme (talvez mais de uma vez, como é o meu caso). Logo, não vão se importar com os spoilers.
Já os demais, que ainda intentam assistir à película, peço que interrompam por aqui a leitura (a não ser que não se importem, claro).
A finalidade do presente texto é demonstrar paralelos entre cenas e diálogos do filme em questão com passagens da Bíblia Sagrada.
Óbvio que aqui veremos doses generosas de "viagens" deste signatário. Não quero dizer que o autor/diretor teve a intenção de citar as Escrituras, tampouco nelas se inspirou. Trata-se apenas de um ponto de vista.
Isto posto, vejamos alguns desses momentos:

1) Aos primeiros minutos do filme, num diálogo no interior do tanque no qual vive o Professor Xavier, Logan retruca:
"- Você sempre achou que fazíamos parte do plano de Deus, mas na verdade somos um erro de Deus".
Quando algo não acontece exatamente como o planejado, ou quando algo que nos contraria a vontade acontece, mormente a primeira reação do ser humano é culpar a Deus. Reconheçamos que é dificílimo afirmar "Seja feita a vossa vontade", quando o que mais gostaríamos é que fosse feita a nossa vontade. E, como sabemos, é fato que nem tudo acontece de acordo com o que planejamos. Assim, as decepções fazem parte da vida de qualquer um.
No que diz respeito àquela revolta que vez por outra toma conta de nosso ser por algumas peculiaridades que apresentamos - aparência física, temperamento, classe social, etc., cabe-nos relembrar os seguintes textos:
"Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?" (Isaías 45.9)
"Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?" (Romanos 9.20, 21)⁠⁠⁠⁠

2) Percebendo que o aprisionado Caliban reluta em usar seus dons para ajudar na localização de Logan, Xavier e Laura, Donald Pierce dispara: "- Você jogava no meu time, ajudou a matar todos os velhos mutantes... O que aconteceu? Entrou para a igreja?"
Observamos em nossa sociedade o quão comum é essa confusão feita entre a real conversão de alguém com a mera mudança de religião.
Penso que a intenção de Pierce (ou do roteirista, como queira) era, na verdade questionar se Caliban havia se convertido ao cristianismo, haja vista sua patente mudança de comportamento e de ideias - uma verdadeira metanoia.
Claro está que, arrependido de seus serviços prestados àqueles que pretendiam exterminar os mutantes, Caliban decidiu, de fato, "mudar de time", como zombou Pierce.
Poderíamos citar diversos versículos bíblicos relacionados à conversão, mas creio que somente Efésios 5.11 seja o suficiente para ilustrar o caso de Caliban: "E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as".⁠⁠⁠⁠

3) O momento em que Caliban, aprisionado por Pierce e sua trupe, numa das cenas de batalha obtém êxito em alcançar duas granadas, detonando-as dentro do furgão/cativeiro em que se encontrava. Conquanto tenha sido um ato suicida, a qual teve por escopo criar oportunidade para a fuga de Logan e Laura, certamente levou consigo alguns dos opositores. A referida cena me lembrou, guardadas as devidas proporções, do momento derradeiro de Sansão, ocasião em que empurrou duas colunas do templo de Dagom, fazendo-o cair sobre aqueles que o aprisionaram e dele faziam chacota.
Pude imaginar Caliban clamando, à maneira do citado juiz de Israel: “Morra eu com os filisteus!” (Juízes 16.30). Ou, numa paráfrase, “Morra eu com aqueles que nos perseguem!”.

4) Ao chamar a atenção de Logan, em um dos diálogos Charles Xavier brada: "- Seja como o resto do mundo que culpa as outros por suas próprias merdas!". Ou seja, alude à transferência de responsabilidade, tão comum no ser humano. Afinal, sempre foi muito mais fácil imputar a culpa ao próximo ao invés de assumi-la. Tudo começou no Éden:
"E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?
E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.
E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?
Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.
E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi." (Gênesis 3:9-13)⁠⁠⁠⁠

5) Na cena final do filme – quem diria que um dia veríamos o Carcaju chorar... – , agonizando e com Laura/X-23 chorando ao seu lado, Logan profere suas últimas palavras: “– Não seja aquilo que fizeram de você...” e “– Então essa é a sensação de ter uma filha...”.
Quem é pai (ou mãe) bem sabe a que Logan se refere. Acredito que ser pai é a maior bênção que já me foi concedida. “Eis que os filhos são herança do Senhor (...)” (Salmos 127.3).

6) Na cena que se passa no quarto do hotel, Professor Xavier e Laura assistem ao filme "Os brutos também amam", no qual em um dos momentos percebe-se os atores em meio a um sepultamento recitando a oração do "Pai nosso" (Mateus 6.9-13).

7) A película tem sangue, muito sangue... Chega a lembrar o Antigo Testamento.

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

sexta-feira, 10 de março de 2017

O primeiro Culto Protestante realizado no Brasil - 460 anos.

Há 460 anos era realizado o 1º Culto Protestante em nossa Pátria. Vejamos, em breves palavras, como tudo aconteceu.
Após o "descobrimento", Portugal muito demorou a se interessar pela efetiva colonização do Brasil. Some-se a isso o fato de que, face à dimensão territorial da costa, a missão de proteger a "Ilha de Vera Cruz" se constituía em algo impossível. Dessa maneira, outras nações se sentiram atraídas à execução de tal mister.
Um dos aventureiros que tiveram tal iniciativa foi Nicolas Durand de Villegaignon, militar francês que intentou implantar na América do Sul a "França Antártida". Para isso, teve pleno apoio rei Henrique II, que lhe cedeu duas naus, recursos materiais e recursos humanos para a viagem. A chegada da expedição à Guanabara aconteceu em 10 de novembro de 1555.
Uma vez estabelecidos na região, surgiram inúmeras dificuldades para os colonos. Com isso, Villegaignon solicitou à Igreja Reformada de Genebra a remessa de pastores e mais colonos cristãos, objetivando a elevação do nível moral e espiritual da colônia.
João Calvino selecionou para a missão os pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier, visando a implantação da fé reformada entre os franceses, bem como a evangelização dos indígenas.
Os huguenotes - assim eram chamados os protestantes franceses - que acompanharam a viagem foram os seguintes: Pierre Bourdon, Matthieu Verneil, Jean du Bourdel, André Lafon, Nicolas Denis, Jean Gardien, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau e Jean de Léry, o escriba do grupo. Deixaram Genebra em 16 de setembro de 1556. Entre homens e mulheres vieram ao todo 290 pessoas.
Após meses de tenebrosa viagem, desembarcaram no forte Coligny dia 10 de março de 1557, quarta-feira. Realizada a recepção, reuniram-se numa pequena sala no centro da ilha, onde foi realizado um culto de ação de graças, que ficou conhecido como o primeiro culto protestante ocorrido no Brasil e, para muitos, do Continente Americano.
A sequência do culto foi a seguinte:
- Oração realizada pelo ministro Richier;
- Cântico do Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”, hino integrante do Saltério Huguenote e ainda hoje presente nos hinários franceses.
- Sermão pregado pelo pastor Richier, com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”.
Findo o culto, os huguenotes realizaram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena.


Para pormenores sobre o que aconteceu antes e depois do acima narrado, sugiro a leitura do livro "A tragédia da Guanabara", publicado pela Editora Cultura Cristã.


Soli Deo Gloria

Alessandro Cristian

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Malafaia: a derrocada de um pastor

1999 foi o ano em que comecei a ser atraído pelo Evangelho de Cristo. Naqueles tempos em que a internet dava seus primeiros passos e ainda não existia o Youtube, era dificílimo encontrarmos pregações e palestras, os quais eu buscava com avidez face à minha vontade de me aprofundar na Palavra.
Numa de minhas peregrinações pelos canais de televisão num sábado de manhã, me deparei com um jovem senhor falando sobre Jesus de uma forma que eu nunca havia presenciado: era Silas Malafaia, em seus áureos tempos, em que não tinha tanto dinheiro mas servia a Cristo com sinceridade e amor pelos ouvintes.
A partir dali, passei a me interessar pelos materiais por ele publicados: livros, Cd's e fitas VHS. Confesso que aprendi muito com algumas daquelas palestras/pregações.
No entanto, depois de alguns anos, as coisas começaram a mudar paulatinamente. A teologia da prosperidade, outrora renegada pelo aludido pastor, começou a ser por ele tolerada mediante pequenos flertes até que, enfim, a abraçou por completo e nela se emaranhou.
Acredito que isso aconteceu no momento em que ele entendeu que poderia ficar tão milionário quanto outros pastores lobos adeptos dessa abominável teologia, que transforma o Soberano Criador em mera marionete que está à mercê dos desejos humanos, numa espécie de gênio da lâmpada sempre pronto a atender quaisquer desejos dos fiéis, ou mesmo numa versão melhorada do papai noel.
Ao mudar o foco de sua fala, mudou também o tom para com seus detratores e até mesmo para com aqueles que simplesmente discordam das suas ideias. Assim, aqueles que não compactuam com sua nova linha de pensamento, passaram a ser chamados de manés, trouxas, e similares.
Passou também a ostentar seus bens, afirmando com a boca cheia que havia adquirido um avião particular pela bagatela de 12 milhões de reais, que seu anel custou 4 mil dólares e que que seu automóvel Mercedes-Benz blindado está avaliado em 450 mil reais, dentre outros arroubos de histeria e riqueza. Logo ele, que era um pregador ferrenho contra a teologia da prosperidade... Confira aqui.
Hoje em dia, ao invés da voz apologética do evangelho a qual Silas se orgulhava de ser (e a qual gostávamos de ouvir), está chafurdado na lama, numa espécie de “topa tudo por dinheiro”, abraçando outras coisas que outrora combatia (e.g., o apostolado moderno).
O que dizer então da Bíblia de 900 reais e outras campanhas horrendas realizadas por Silas com a ajuda dos pastores hereges gringos Mike Murdock e Morris Cerullo, com a finalidade de extorquir os crentes arrecadar dinheiro?
Mas o fundo do poço veio recentemente, com o indiciamento por lavagem de dinheiro na Operação Timóteo, desencadeada pela Polícia Federal com a finalidade de desarticular um esquema de corrupção nas cobranças de royalties da exploração mineral. O nome da operação está baseado na Primeira Epístola de S. Paulo ao jovem pastor Timóteo na qual o apóstolo afirma: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína (I Tm 6.9).
O indiciamento se deu pelo fato de que Silas recebeu uma suposta “oferta” de 100 mil reais em uma conta bancária pessoal, proveniente de um dos escritórios investigados. Claro que deve ser levado em consideração o princípio da presunção de inocência, insculpido no inciso LVII do artigo 5º de nossa Magna Carta, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Mas, convenhamos, como afirma o salmista, “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7). E, o primeiro abismo no qual Silas caiu é justamente o da teologia da prosperidade.
O desejo sincero de meu coração é que Silas se arrependa de seus desvios doutrinários, de sua ganância por poder, de sua ira, de sua falta de mansidão, de sua politicagem e de seu amor ao dinheiro, e se volte enquanto é tempo ao cristianismo puro e simples, do qual já foi um pregoeiro. 
Afinal, como sabemos, foi da vontade de Deus que Paulo fosse encarcerado, que Tiago fosse morto à espada, que Estevão fosse apedrejado, que João Batista fosse decapitado, que Pedro fosse crucificado de cabeça para baixo (segundo a tradição cristã) e tantos outros mártires cristãos fossem “torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados” (Hebreus 11:35-37).
Por que então seria da vontade d’Ele que Silas e todos nós fôssemos hoje milionários? 
Afinal, como disse Jesus, a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui (Lucas 12:15). A riqueza do cristão é outra.

(Para textos bíblicos sobre os perigos do amor ao dinheiro, clique aqui)

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

sábado, 28 de janeiro de 2017