O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Malafaia: a derrocada de um pastor

1999 foi o ano em que comecei a ser atraído pelo Evangelho de Cristo. Naqueles tempos em que a internet dava seus primeiros passos e ainda não existia o Youtube, era dificílimo encontrarmos pregações e palestras, os quais eu buscava com avidez face à minha vontade de me aprofundar na Palavra.
Numa de minhas peregrinações pelos canais de televisão num sábado de manhã, me deparei com um jovem senhor falando sobre Jesus de uma forma que eu nunca havia presenciado: era Silas Malafaia, em seus áureos tempos, em que não tinha tanto dinheiro mas servia a Cristo com sinceridade e amor pelos ouvintes.
A partir dali, passei a me interessar pelos materiais por ele publicados: livros, Cd's e fitas VHS. Confesso que aprendi muito com algumas daquelas palestras/pregações.
No entanto, depois de alguns anos, as coisas começaram a mudar paulatinamente. A teologia da prosperidade, outrora renegada pelo aludido pastor, começou a ser por ele tolerada mediante pequenos flertes até que, enfim, a abraçou por completo e nela se emaranhou.
Acredito que isso aconteceu no momento em que ele entendeu que poderia ficar tão milionário quanto outros pastores lobos adeptos dessa abominável teologia, que transforma o Soberano Criador em mera marionete que está à mercê dos desejos humanos, numa espécie de gênio da lâmpada sempre pronto a atender quaisquer desejos dos fiéis, ou mesmo numa versão melhorada do papai noel.
Ao mudar o foco de sua fala, mudou também o tom para com seus detratores e até mesmo para com aqueles que simplesmente discordam das suas ideias. Assim, aqueles que não compactuam com sua nova linha de pensamento, passaram a ser chamados de manés, trouxas, e similares.
Passou também a ostentar seus bens, afirmando com a boca cheia que havia adquirido um avião particular pela bagatela de 12 milhões de reais, que seu anel custou 4 mil dólares e que que seu automóvel Mercedes-Benz blindado está avaliado em 450 mil reais, dentre outros arroubos de histeria e riqueza. Logo ele, que era um pregador ferrenho contra a teologia da prosperidade... Confira aqui.
Hoje em dia, ao invés da voz apologética do evangelho a qual Silas se orgulhava de ser (e a qual gostávamos de ouvir), está chafurdado na lama, numa espécie de “topa tudo por dinheiro”, abraçando outras coisas que outrora combatia (e.g., o apostolado moderno).
O que dizer então da Bíblia de 900 reais e outras campanhas horrendas realizadas por Silas com a ajuda dos pastores hereges gringos Mike Murdock e Morris Cerullo, com a finalidade de extorquir os crentes arrecadar dinheiro?
Mas o fundo do poço veio recentemente, com o indiciamento por lavagem de dinheiro na Operação Timóteo, desencadeada pela Polícia Federal com a finalidade de desarticular um esquema de corrupção nas cobranças de royalties da exploração mineral. O nome da operação está baseado na Primeira Epístola de S. Paulo ao jovem pastor Timóteo na qual o apóstolo afirma: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína (I Tm 6.9).
O indiciamento se deu pelo fato de que Silas recebeu uma suposta “oferta” de 100 mil reais em uma conta bancária pessoal, proveniente de um dos escritórios investigados. Claro que deve ser levado em consideração o princípio da presunção de inocência, insculpido no inciso LVII do artigo 5º de nossa Magna Carta, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Mas, convenhamos, como afirma o salmista, “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7). E, o primeiro abismo no qual Silas caiu é justamente o da teologia da prosperidade.
O desejo sincero de meu coração é que Silas se arrependa de seus desvios doutrinários, de sua ganância por poder, de sua ira, de sua falta de mansidão, de sua politicagem e de seu amor ao dinheiro, e se volte enquanto é tempo ao cristianismo puro e simples, do qual já foi um pregoeiro. 
Afinal, como sabemos, foi da vontade de Deus que Paulo fosse encarcerado, que Tiago fosse morto à espada, que Estevão fosse apedrejado, que João Batista fosse decapitado, que Pedro fosse crucificado de cabeça para baixo (segundo a tradição cristã) e tantos outros mártires cristãos fossem “torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados” (Hebreus 11:35-37).
Por que então seria da vontade d’Ele que Silas e todos nós fôssemos hoje milionários? 
Afinal, como disse Jesus, a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui (Lucas 12:15). A riqueza do cristão é outra.

(Para textos bíblicos sobre os perigos do amor ao dinheiro, clique aqui)

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian