O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

sexta-feira, 24 de março de 2017

"Logan" e a Bíblia

Passadas três semanas da estreia de "Logan", penso ser o momento ideal para a postagem do presente texto.
Isso porque aqueles que são fãs do personagem, bem como aqueles que se interessam por filmes baseados em HQ em geral, certamente já assistiram ao filme (talvez mais de uma vez, como é o meu caso). Logo, não vão se importar com os spoilers.
Já os demais, que ainda intentam assistir à película, peço que interrompam por aqui a leitura (a não ser que não se importem, claro).
A finalidade do presente texto é demonstrar paralelos entre cenas e diálogos do filme em questão com passagens da Bíblia Sagrada.
Óbvio que aqui veremos doses generosas de "viagens" deste signatário. Não quero dizer que o autor/diretor teve a intenção de citar as Escrituras, tampouco nelas se inspirou. Trata-se apenas de um ponto de vista.
Isto posto, vejamos alguns desses momentos:

1) Aos primeiros minutos do filme, num diálogo no interior do tanque no qual vive o Professor Xavier, Logan retruca:
"- Você sempre achou que fazíamos parte do plano de Deus, mas na verdade somos um erro de Deus".
Quando algo não acontece exatamente como o planejado, ou quando algo que nos contraria a vontade acontece, mormente a primeira reação do ser humano é culpar a Deus. Reconheçamos que é dificílimo afirmar "Seja feita a vossa vontade", quando o que mais gostaríamos é que fosse feita a nossa vontade. E, como sabemos, é fato que nem tudo acontece de acordo com o que planejamos. Assim, as decepções fazem parte da vida de qualquer um.
No que diz respeito àquela revolta que vez por outra toma conta de nosso ser por algumas peculiaridades que apresentamos - aparência física, temperamento, classe social, etc., cabe-nos relembrar os seguintes textos:
"Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?" (Isaías 45.9)
"Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?" (Romanos 9.20, 21)⁠⁠⁠⁠

2) Percebendo que o aprisionado Caliban reluta em usar seus dons para ajudar na localização de Logan, Xavier e Laura, Donald Pierce dispara: "- Você jogava no meu time, ajudou a matar todos os velhos mutantes... O que aconteceu? Entrou para a igreja?"
Observamos em nossa sociedade o quão comum é essa confusão feita entre a real conversão de alguém com a mera mudança de religião.
Penso que a intenção de Pierce (ou do roteirista, como queira) era, na verdade questionar se Caliban havia se convertido ao cristianismo, haja vista sua patente mudança de comportamento e de ideias - uma verdadeira metanoia.
Claro está que, arrependido de seus serviços prestados àqueles que pretendiam exterminar os mutantes, Caliban decidiu, de fato, "mudar de time", como zombou Pierce.
Poderíamos citar diversos versículos bíblicos relacionados à conversão, mas creio que somente Efésios 5.11 seja o suficiente para ilustrar o caso de Caliban: "E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as".⁠⁠⁠⁠

3) O momento em que Caliban, aprisionado por Pierce e sua trupe, numa das cenas de batalha obtém êxito em alcançar duas granadas, detonando-as dentro do furgão/cativeiro em que se encontrava. Conquanto tenha sido um ato suicida, a qual teve por escopo criar oportunidade para a fuga de Logan e Laura, certamente levou consigo alguns dos opositores. A referida cena me lembrou, guardadas as devidas proporções, do momento derradeiro de Sansão, ocasião em que empurrou duas colunas do templo de Dagom, fazendo-o cair sobre aqueles que o aprisionaram e dele faziam chacota.
Pude imaginar Caliban clamando, à maneira do citado juiz de Israel: “Morra eu com os filisteus!” (Juízes 16.30). Ou, numa paráfrase, “Morra eu com aqueles que nos perseguem!”.

4) Ao chamar a atenção de Logan, em um dos diálogos Charles Xavier brada: "- Seja como o resto do mundo que culpa as outros por suas próprias merdas!". Ou seja, alude à transferência de responsabilidade, tão comum no ser humano. Afinal, sempre foi muito mais fácil imputar a culpa ao próximo ao invés de assumi-la. Tudo começou no Éden:
"E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?
E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.
E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?
Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.
E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi." (Gênesis 3:9-13)⁠⁠⁠⁠

5) Na cena final do filme – quem diria que um dia veríamos o Carcaju chorar... – , agonizando e com Laura/X-23 chorando ao seu lado, Logan profere suas últimas palavras: “– Não seja aquilo que fizeram de você...” e “– Então essa é a sensação de ter uma filha...”.
Quem é pai (ou mãe) bem sabe a que Logan se refere. Acredito que ser pai é a maior bênção que já me foi concedida. “Eis que os filhos são herança do Senhor (...)” (Salmos 127.3).

6) Na cena que se passa no quarto do hotel, Professor Xavier e Laura assistem ao filme "Os brutos também amam", no qual em um dos momentos percebe-se os atores em meio a um sepultamento recitando a oração do "Pai nosso" (Mateus 6.9-13).

7) A película tem sangue, muito sangue... Chega a lembrar o Antigo Testamento.

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

sexta-feira, 10 de março de 2017

O primeiro Culto Protestante realizado no Brasil - 460 anos.

Há 460 anos era realizado o 1º Culto Protestante em nossa Pátria. Vejamos, em breves palavras, como tudo aconteceu.
Após o "descobrimento", Portugal muito demorou a se interessar pela efetiva colonização do Brasil. Some-se a isso o fato de que, face à dimensão territorial da costa, a missão de proteger a "Ilha de Vera Cruz" se constituía em algo impossível. Dessa maneira, outras nações se sentiram atraídas à execução de tal mister.
Um dos aventureiros que tiveram tal iniciativa foi Nicolas Durand de Villegaignon, militar francês que intentou implantar na América do Sul a "França Antártida". Para isso, teve pleno apoio rei Henrique II, que lhe cedeu duas naus, recursos materiais e recursos humanos para a viagem. A chegada da expedição à Guanabara aconteceu em 10 de novembro de 1555.
Uma vez estabelecidos na região, surgiram inúmeras dificuldades para os colonos. Com isso, Villegaignon solicitou à Igreja Reformada de Genebra a remessa de pastores e mais colonos cristãos, objetivando a elevação do nível moral e espiritual da colônia.
João Calvino selecionou para a missão os pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier, visando a implantação da fé reformada entre os franceses, bem como a evangelização dos indígenas.
Os huguenotes - assim eram chamados os protestantes franceses - que acompanharam a viagem foram os seguintes: Pierre Bourdon, Matthieu Verneil, Jean du Bourdel, André Lafon, Nicolas Denis, Jean Gardien, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau e Jean de Léry, o escriba do grupo. Deixaram Genebra em 16 de setembro de 1556. Entre homens e mulheres vieram ao todo 290 pessoas.
Após meses de tenebrosa viagem, desembarcaram no forte Coligny dia 10 de março de 1557, quarta-feira. Realizada a recepção, reuniram-se numa pequena sala no centro da ilha, onde foi realizado um culto de ação de graças, que ficou conhecido como o primeiro culto protestante ocorrido no Brasil e, para muitos, do Continente Americano.
A sequência do culto foi a seguinte:
- Oração realizada pelo ministro Richier;
- Cântico do Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”, hino integrante do Saltério Huguenote e ainda hoje presente nos hinários franceses.
- Sermão pregado pelo pastor Richier, com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”.
Findo o culto, os huguenotes realizaram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena.


Para pormenores sobre o que aconteceu antes e depois do acima narrado, sugiro a leitura do livro "A tragédia da Guanabara", publicado pela Editora Cultura Cristã.


Soli Deo Gloria

Alessandro Cristian