O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

sábado, 27 de julho de 2013

Um breve estudo sobre o divórcio

Antes de analisar biblicamente o assunto, vejamos um breve histórico sobre o divórcio em nosso país e contexto social.
Até o advento da Constituição Federal de 1988, o matrimônio era tido como indissolúvel – reflexo do cristianismo e, porque não ser mais específico, do catolicismo, religião dominante do país.
A CF de 1934, em seu artigo 144 trazia o seguinte texto: "A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado."
De igual maneira afirmava a CF de 1967, § 1º do artigo 167: "O casamento é indissolúvel". A CF de 1969, idem (§ 1º do artigo 175).
Em 1977 foi aprovada a Emenda Constitucional nº 09/1977, a qual alterou o texto da Constituição de 1969, permitindo que discussões fossem travadas em torno da aprovação da legislação infraconstitucional para disciplinar a dissolução do casamento.
Antes indissolúvel, a partir da aludida emenda o texto constitucional passou a ser o seguinte: "O casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos" (grifo meu).
Ainda em 1977 foi promulgada a Lei Federal n.º 6.515/77, a qual regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências. Embora muito criticado, tal diploma legal veio a ser um divisor de águas acerca do tema.
Já a CF de 1988 alterou o texto da Emenda supra, trazendo o seguinte texto: "O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos" (Artigo 226, § 6º).
Em 2002 entrou em vigor o Novo Código Civil – Lei 10.406/02, que disciplinou o assunto com a manutenção do procedimento prévio (separação judicial), ao lado do divórcio, com a possibilidade de ocorrer por conversão ou de forma direta, com a observância dos prazos legais.
Mais recentemente veio a lume a Emenda Constitucional nº 66/2010, que suprimiu a exigência da separação judicial para o divórcio, além de ter extinto o requisito do prazo para a propositura da ação, pondo fim às denominações divórcio direto e divórcio indireto, sendo este por conversão. A Emenda em questão suprimiu parte do § 6 do Artigo 226 da Carta Magna, acima citado, o qual passou a ter como redação apenas as seguintes palavras: "O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio".
Citemos ainda a Lei Federal n.º 11441/07, a qual alterou dispositivos da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, possibilitando a realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via administrativa. Ou seja, o diploma legal em questão "desjudicializou" e trouxe celeridade aos processos de divórcio.
Agora vamos à Jerusalém de 2000 anos atrás, período em que Jesus, o Deus encarnado, esteve entre nós como homem. Pelo diálogo entre o Mestre e a mulher samaritana, observa-se o quão banalizado se encontrava o casamento – ou seja, isso não é de hoje que ocorre: "A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade." (Jo 4.17, 18)
Duas escolas rabínicas se destacavam naquele tempo: a do rabino Hillel e a do rabino Shammai.
Shammai era extremamente radical e, nesse sentido, afirmava que o divórcio só era legítimo em casos de adultério. Já Hillel "abria o leque", de maneira que, segundo ele, qualquer coisa justificava o divórcio.
Opina-se que, quando os fariseus se aproximaram de Jesus com a pergunta: "É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?" (Mateus 19:3), nas entrelinhas estavam questionando de qual escola Ele era partidário: de Hillel ou de Shammai. Porém o Mestre foi mais profundo, desconsiderou as escolas rabínicas e reivindicou a Palavra de Deus.
A divergência de opiniões quanto ao divórcio se dava principalmente pela dificuldade de interpretação de Deuteronômio 24.1: "Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio (divórcio), e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa."
O que "pega" é a definição de "coisa indecente". Enquanto para Shammai se tratava de adultério, para Hillel qualquer coisa poderia ser taxada como indecente, desde mau hálito até inabilidade na cozinha. Ou seja, segundo essa escola "qualquer motivo era motivo" para o divórcio.
Ressalte-se ainda que, se o marido constatasse após o casamento que a esposa não era mais virgem – ou seja, havia praticado sexo pré-marital – isso não se constituía somente em motivo de separação, mas também de apedrejamento da mulher (Deuteronômio 22.20-21). Segundo o Talmude, a pena de morte para os casos de adultério foi abolida por volta do ano 30 d.C.
Acerca da "coisa indecente", Jesus afirmou o seguinte: "Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de desquite. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério." (Mateus 5:31-32)
Ou seja, foi mais específico ao substituir os termos "coisa feia" ou "indecente" por "prostituição".
Assim, à luz do Novo Testamento podemos afirmar que duas exceções justificam o divórcio:
  1. Prática de prostituição/adultério ( Mt 5.31, 32);
  2. Impossibilidade de reconciliação entre os cônjuges em casais mistos, desde que a iniciativa seja da parte descrente (I Co 7.15).
Observamos também que, se porventura uma separação ocorrer, como tem acontecido por incompatibilidade de gênio e de natureza ou por outras questões domésticas usadas como justificativas, depois de esgotados todos os recursos para a reconciliação, o conselho é: "Se, porém, se apartar, que fique sem casar ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher". (I Co 7.11)
É fato que a cada dia cresce o número de divórcios e de tênues casamentos que não resistem ao primeiro terremoto. É fato também que, em certos casos, principalmente pela dureza de coração do homem, pela falta de humildade e diálogo, a relação descamba para terríveis e lastimáveis trocas de agressão verbal e física, em alguns casos culminando até mesmo com um homicídio.
Se um relacionamento tende a chegar a esse ponto, não podemos incorrer no farisaísmo de obrigar os dois a permanecerem juntos "até que a morte – ou assassinato – os separe". Afinal, nesse caso é melhor a separação do que o crime e a cadeia. Mas sem esquecer a recomendação paulina contida em I Co 7.11.

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

Síntese da aula ministrada na Escola Bíblica Dominical em 09SET12.

sábado, 13 de julho de 2013

Provai e vede que o Senhor é bom...

Desde a infância, desenvolvemos nosso paladar, nossos gostos e preferências ao experimentar os alimentos que nos são oferecidos, ou colocados à nossa frente.
Certamente você já recusou algo, proferindo em seguida a assertiva "eu não gosto disso", sem sequer ter jamais experimentado. Em certo momento você decide provar aquele alimento e então percebe que estava perdendo de se deleitar com algo tão aprazível, simplesmente por desconhecimento e relutância em degustar aquele prato.
No âmbito espiritual, acontece isso de igual maneira.
O Salmo 34.8 nos orienta: "Provai, e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele confia."
O homem jamais saberá como é o Senhor, tampouco terá um vislumbre de sua bondade se não prová-lo. E uma vez que nós o provamos, como o Pão da Vida que é, jamais podemos deixar de tê-lo como alimento espiritual.
É inconcebível que alguém o tenha conhecido de fato e consiga ficar dias sem orar, sem buscá-lo através de sua Palavra e meditação, e sem a manutenção da comunhão com o Corpo de Cristo.
Assim como nosso corpo físico precisa do alimento cotidiano, também nosso espírito necessita ser nutrido pelo Espírito, receber a "vitamina" que vem de Deus, receber o Pão que desceu do céu.
Dentre os apóstolos que acompanharam o Mestre durante seu ministério terreno, três se destacam pela maneira como provaram a Deus.
Em primeiro lugar temos Judas que, definitivamente, não provou ao Senhor. Apesar de ter caminhado com Ele, o acompanhado e o auxiliado, não conheceu-o de fato. Quantos hoje estão nessa mesma situação: frequentam a igreja, ouvem a palavra e até se alegram em algumas ocasiões, mas não experimentaram a Cristo. Assim, ao sinal da primeira luta o abandonam e, se for preciso, até traem a Igreja e seu Líder Supremo, o Sumo Sacerdote, o Pastor de nossa alma. Não confundamos adesão com conversão.
Em segundo lugar, vemos o Pedro pré-conversão, homem impetuoso que não hesitava em usar a espada para defender Jesus, justamente porque não o conhecia. Lembremos das palavras do Senhor proferidas a Pedro quando o mesmo cortou a orelha de Malco: "Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?". Ou seja, se Pedro conhecesse que Aquele a quem ele seguia era o Todo-Poderoso, não teria se utilizado de expediente humano naquela ocasião e em nenhuma outra. Ressalte-se que o mesmo Pedro jurou fidelidade irrestrita a Jesus para, poucos momentos após, negá-lo três vezes. Havia provado Jesus apenas superficialmente.
Por fim, o terceiro exemplo é o apóstolo João, o único que seguiu a Cristo até aos pés da cruz.
Me pergunto se hoje estaríamos dispostos, como Igreja do Senhor, a caminhar com o Senhor da Igreja até as últimas consequências. Ou se o trairíamos à maneira de Judas, ou se o negaríamos à maneira de Pedro.
Provai e vede que o Senhor é bom...
Sejamos como João, indo com Cristo até o fim. Ou como Moisés, que mesmo após ter visto o Senhor libertando Israel com mão forte, tirando-os do Egito, abrindo o Mar Vermelho para passarem com o pés enxutos, os sustentando durante quarenta anos no deserto, mandando uma nuvem para os proteger do sol causticante durante o dia e uma coluna de fogo para guiá-los durante a noite, fazendo descer pão do céu e mandando codornizes para alimentá-los, fazendo brotar água da Rocha para saciar a sede da nação... Mesmo depois de tudo isso, clamou ao Senhor: "Rogo-te que me mostres a tua glória" (Êxodo 33.18).
Desejemos sempre mais de Deus. Estejamos sempre satisfeitos com o Senhor, mas nunca saciados.
Que o Senhor nos abençoe e nos ajude.

(Esboço de mensagem pregada em 02/06/12)

Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian

sábado, 6 de julho de 2013

Um Engano Chamado "Teologia Inclusiva" ou "Teologia Gay"

O padrão de Deus para o exercício da sexualidade humana é o relacionamento entre um homem e uma mulher no ambiente do casamento. Nesta área, a Bíblia só deixa duas opções para os cristãos: casamento heterossexual e monogâmico ou uma vida celibatária. À luz das Escrituras, relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são vistas não como opção ou alternativa, mas sim como abominação, pecado e erro, sendo tratada como prática contrária à natureza. Contudo, neste tempo em que vivemos, cresce na sociedade em geral, e em setores religiosos, uma valorização da homossexualidade como comportamento não apenas aceitável, mas supostamente compatível com a vida cristã. Diferentes abordagens teológicas têm sido propostas no sentido de se admitir que homossexuais masculinos e femininos possam ser aceitos como parte da Igreja e expressar livremente sua homoafetividade no ambiente cristão.

Existem muitas passagens na Bíblia que se referem ao relacionamento sexual padrão, normal, aceitável e ordenado por Deus, que é o casamento monogâmico heterossexual. Desde o Gênesis, passando pela lei e pela trajetória do povo hebreu, até os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento, a tradição bíblica aponta no sentido de que Deus criou homem e mulher com papéis sexuais definidos e complementares do ponto de vista moral, psicológico e físico. Assim, é evidente que não é possível justificar o relacionamento homossexual a partir das Escrituras, e muito menos dar à Bíblia qualquer significado que minimize ou neutralize sua caracterização como ato pecaminoso. Em nenhum momento, a Palavra de Deus justifica ou legitima um estilo homossexual de vida, como os defensores da chamada “teologia inclusiva” têm tentado fazer. Seus argumentos têm pouca ou nenhuma sustentação exegética, teológica ou hermenêutica.

A “teologia inclusiva” é uma abordagem segundo a qual, se Deus é amor, aprovaria todas as relações humanas, sejam quais forem, desde que haja este sentimento. Essa linha de pensamento tem propiciado o surgimento de igrejas onde homossexuais, nesta condição, são admitidos como membros e a eles é ensinado que o comportamento gay não é fator impeditivo à vida cristã e à salvação. Assim, desde que haja amor genuíno entre dois homens ou duas mulheres, isso validaria seu comportamento, à luz das Escrituras. A falácia desse pensamento é que a mesma Bíblia que nos ensina que Deus é amor igualmente diz que ele é santo e que sua vontade quanto à sexualidade humana é que ela seja expressa dentro do casamento heterossexual, sendo proibidas as relações homossexuais.

Em segundo lugar, a “teologia inclusiva” defende que as condenações encontradas no Antigo Testamento, especialmente no livro de Levítico, se referem somente às relações sexuais praticadas em conexão com os cultos idolátricos e pagãos, como era o caso dos praticados pelas nações ao redor de Israel. Além disso, tais proibições se encontram ao lado de outras regras contra comer sangue ou carne de porco, que já seriam ultrapassadas e, portanto, sem validade para os cristãos. Defendem ainda que a prova de que as proibições das práticas homossexuais eram culturais e cerimoniais é que elas eram punidas com a morte – coisa que não se admite a partir da época do Novo Testamento. 

É fato que as relações homossexuais aconteciam inclusive – mas não exclusivamente – nos cultos pagãos dos cananeus. Contudo, fica evidente que a condenação da prática homossexual transcende os limites culturais e cerimoniais, pois é repetida claramente no Novo Testamento. Ela faz parte da lei moral de Deus, válida em todas as épocas e para todas as culturas. A morte de Cristo aboliu as leis cerimoniais, como a proibição de se comer determinados alimentos, mas não a lei moral, onde encontramos a vontade eterna do Criador para a sexualidade humana. Quando ao apedrejamento, basta dizer que outros pecados punidos com a morte no Antigo Testamento continuam sendo tratados como pecado no Novo, mesmo que a condenação capital para eles tenha sido abolida – como, por exemplo, o adultério e a desobediência contumaz aos pais.

PECADO E DESTRUIÇÃO
Os teólogos inclusivos gostam de dizer que Jesus Cristo nunca falou contra o homossexualismo. Em compensação, falou bastante contra a hipocrisia, o adultério, a incredulidade, a avareza e outros pecados tolerados pelos cristãos. Este é o terceiro ponto: sabe-se, todavia, que a razão pela qual Jesus não falou sobre homossexualidade é que ela não representava um problema na sociedade judaica de sua época, que já tinha como padrão o comportamento heterossexual. Não podemos dizer que não havia judeus que eram homossexuais na época de Jesus, mas é seguro afirmar que não assumiam publicamente esta conduta. Portanto, o homossexualismo não era uma realidade social na Palestina na época de Jesus. Todavia, quando a Igreja entrou em contato com o mundo gentílico – sobretudo as culturas grega e romana, onde as práticas homossexuais eram toleradas, embora não totalmente aceitas –, os autores bíblicos, como Paulo, incluíram as mesmas nas listas de pecados contra Deus. Para os cristãos, Paulo e demais autores bíblicos escreveram debaixo da inspiração do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo. Portanto, suas palavras são igualmente determinantes para a conduta da Igreja nos dias de hoje.

O quarto ponto equivocado da abordagem que tenta fazer do comportamento gay algo normal e aceitável no âmbito do Cristianismo é a suposição de que o pecado de Sodoma e Gomorra não foi o homossexualismo, mas a falta de hospitalidade para com os hóspedes de Ló. A base dos teólogos inclusivos para esta afirmação é que no original hebraico se diz que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (Gênesis 19.5) e não abusar sexualmente deles, como é traduzido em várias versões, como na Almeida atualizada. Outras versões como a Nova versão internacional e a Nova tradução na linguagem de hojeentendem que conhecer ali é conhecer sexualmente e dizem que os concidadãos de Ló queriam “ter relações” com os visitantes, enquanto a SBP é ainda mais clara: “Queremos dormir com eles”. Usando-se a regra de interpretação simples de analisar palavras em seus contextos, percebe-se que o termo hebraico usado para dizer que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (yadah) é o mesmo termo que Ló usa para dizer que suas filhas, que ele oferecia como alternativa à tara daqueles homens, eram virgens: “Elas nunca conheceram (yadah) homem”, diz o versículo 8. Assim, fica evidente que “conhecer”, no contexto da passagem de Gênesis, significa ter relações sexuais. Foi esta a interpretação de Filo, autor judeu do século 1º, em sua obra sobre a vida de Abraão: segundo ele, "os homens de Sodoma se acostumaram gradativamente a ser tratados como mulheres."

Ainda sobre o pecado cometido naquelas cidades bíblicas, que acabaria acarretando sua destruição, a “teologia inclusiva” defende que o profeta Ezequiel claramente diz que o erro daquela gente foi a soberba e a falta de amparo ao pobre e ao necessitado (Ez 16.49). Contudo, muito antes de Ezequiel, o “sodomita” era colocado ao lado da prostituta na lei de Moisés: o rendimento de ambos, fruto de sua imoralidade sexual, não deveria ser recebido como oferta a Deus, conforme Deuteronômio 23.18. Além do mais, quando lemos a declaração do profeta em contexto, percebemos que a soberba e a falta de caridade era apenas um entre os muitos pecados dos sodomitas. Ezequiel menciona as “abominações” dos sodomitas, as quais foram a causa final da sua destruição: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali” (Ez 16.49-50). Da mesma forma, Pedro, em sua segunda epístolas, refere-se às práticas pecaminosas dos moradores de Sodoma e Gomorra tratando-as como “procedimento libertino”.

Um quinto argumento é que haveria alguns casos de amor homossexual na Bíblia, a começar pelo rei Davi, para quem o amor de seu amigo Jônatas era excepcional, “ultrapassando o das mulheres” (II Samuel 1.26). Contudo, qualquer leitor da Bíblia sabe que o maior problema pessoal de Davi era a falta de domínio próprio quanto à sua atração por mulheres. Foi isso que o levou a casar com várias delas e, finalmente, a adulterar com Bate-Seba, a mulher de Urias. Seu amor por Jônatas era aquela amizade intensa que pode existir entre duas pessoas do mesmo sexo e sem qualquer conotação erótica. Alguns defensores da “teologia inclusiva” chegam a categorizar o relacionamento entre Jesus e João como homoafetivo, pois este, sendo o discípulo amado do Filho de Deus, numa ocasião reclinou a sua cabeça no peito do Mestre (João 13.25). Acontece que tal atitude, na cultura oriental, era uma demonstração de amizade varonil – contudo, acaba sendo interpretada como suposta evidência de um relacionamento homoafetivo. Quem pensa assim não consegue enxergar amizade pura e simples entre pessoas do mesmo sexo sem lhe atribuir uma conotação sexual.

“TORPEZA”
Há uma sexta tentativa de reinterpretar passagens bíblicas com objetivo de legitimar a homossexualidade. Os propagadores da “teologia gay” dizem que, no texto de Romanos 1.24-27, o apóstolo Paulo estaria apenas repetindo a proibição de Levítico à prática homossexual na forma da prostituição cultual, tanto de homens como de mulheres – proibição esta que não se aplicaria fora do contexto do culto idolátrico e pagão. Todavia, basta que se leia a passagem para ficar claro o que Paulo estava condenando. O apóstolo quis dizer exatamente o que o texto diz: que homens e mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza, e que se inflamaram mutuamente em sua sensualidade – homens com homens e mulheres com mulheres –, “cometendo torpeza” e “recebendo a merecida punição por seus erros”. E ao se referir ao lesbianismo como pecado, Paulo deixa claro que não está tratando apenas da pederastia, como alguns alegam, visto que a mesma só pode acontecer entre homens, mas a todas as relações homossexuais, quer entre homens ou mulheres.

É alegado também que, em I Coríntios 6.9, os citados efeminados e sodomitas não seriam homossexuais, mas pessoas de caráter moral fraco (malakoi, pessoa “macia” ou “suave”) e que praticam a imoralidade em geral (arsenokoites, palavra que teria sido inventada por Paulo). Todavia, se este é o sentido, o que significa as referências a impuros e adúlteros, que aparecem na mesma lista? Por que o apóstolo repetiria estes conceitos? Na verdade, efeminado se refere ao que toma a posição passiva no ato homossexual – este é o sentido que a palavra tem na literatura grega da época, em autores como Homero, Filo e Josefo – e sodomita é a referência ao homem que deseja ter coito com outro homem.

Há ainda uma sétima justificativa apresentada por aqueles que acham que a homossexualidade é compatível com a fé cristã. Segundo eles, muitas igrejas cristãs históricas, hoje, já aceitam a prática homossexual como normal – tanto que homossexuais praticantes, homens e mulheres, têm sido aceitos não somente como membros mas também como pastores e pastoras. Essas igrejas, igualmente, defendem e aceitam a união civil e o casamento entre pessoa do mesmo sexo. É o caso, por exemplo, da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos – que nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil –, da Igreja Episcopal no Canadá e de igrejas em nações européias como Suécia, Noruega e Dinamarca, entre outras confissões. Na maioria dos casos, a aceitação da homossexualidade provocou divisões nestas igrejas, e é preciso observar, também, que só aconteceu depois de um longo processo de rejeição da inspiração, infalibilidade e autoridade da Bíblia. Via de regra, essas denominações adotaram o método histórico-crítico – que, por definição, admite que as Sagradas Escrituras são condicionadas culturalmente e que refletem os erros e os preconceitos da época de seus autores. Desta forma, a aceitação da prática homossexual foi apenas um passo lógico. Outros ainda virão. Todavia, cristãos que recebem a Bíblia como a infalível e inerrante Palavra de Deus não podem aceitar a prática homossexual, a não ser como uma daquelas relações sexuais consideradas como pecaminosas pelo Senhor, como o adultério, a prostituição e a fornicação.

Contudo, é um erro pensar que a Bíblia encara a prática homossexual como sendo o pecado mais grave de todos. Na verdade, existe um pecado para o qual não há perdão, mas com certeza não se trata da prática homossexual: é a blasfêmia contra o Espírito Santo, que consiste em atribuir a Satanás o poder pelo qual Jesus Cristo realizou os seus milagres e prodígios aqui neste mundo, mencionado em Marcos 3.22-30. Consequentemente, não está correto usar a Bíblia como base para tratar homossexuais como sendo os piores pecadores dentre todos, que estariam além da possibilidade de salvação e que, portanto, seriam merecedores de ódio e desprezo. É lamentável e triste que isso tenha acontecido no passado e esteja se repetindo no presente. A mensagem da Bíblia é esta: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus”, conforme Romanos 3.23. Todos nós precisamos nos arrepender de nossos pecados e nos submetermos a Jesus Cristo, o Salvador, pela fé, para recebermos o perdão e a vida eterna.

Lembremos ainda que os autores bíblicos sempre tratam da prática homossexual juntamente com outros pecados. O 20º capítulo de Levítico proíbe não somente as relações entre pessoas do mesmo sexo, como também o adultério, o incesto e a bestialidade. Os sodomitas e efeminados aparecem ao lado dos adúlteros, impuros, ladrões, avarentos e maldizentes, quando o apóstolo Paulo lista aqueles que não herdarão o Reino de Deus (I Coríntios 6.9-10). Porém, da mesma forma que havia nas igrejas cristãs adúlteros e prostitutas que haviam se arrependido e mudado de vida, mediante a fé em Jesus Cristo, havia também efeminados e sodomitas na lista daqueles que foram perdoados e transformados.

COMPAIXÃO
É fundamental, aqui, fazer uma importante distinção. O que a Bíblia condena é a prática homossexual, e não a tentação a esta prática. Não é pecado ser tentado ao homossexualismo, da mesma forma que não é pecado ser tentado ao adultério ou ao roubo, desde que se resista. As pessoas que sentem atração por outras do mesmo sexo devem lembrar que tal desejo é resultado da desordem moral que entrou na humanidade com a queda de Adão e que, em Cristo Jesus, o segundo Adão, podem receber graça e poder para resistir e vencer, sendo justificados diante de Deus.

Existem várias causas identificadas comumente para a atração por pessoas do mesmo sexo, como o abuso sexual sofrido na infância. Muitos gays provêm de famílias disfuncionais ou tiveram experiências negativas com pessoas do sexo oposto.  Há aqueles, também, que agem deliberadamente por promiscuidade e têm desejo de chocar os outros. Um outro fator a se levar em conta são as tendências genéticas à homossexualidade, cuja existência não está comprovada até agora e tem sido objeto de intensa polêmica. Todavia, do ponto de vista bíblico, o homossexualismo é o resultado do abandono da glória de Deus, da idolatria e da incredulidade por parte da raça humana, conforme Romanos 1.18-32. Portanto, não é possível para quem crê na Bíblia justificar as práticas homossexuais sob a alegação de compulsão incontrolável e inevitável, muito embora os que sofrem com esse tipo de impulso devam ser objeto de compaixão e ajuda da Igreja cristã.

É preciso também repudiar toda manifestação de ódio contra homossexuais, da mesma forma com que o fazemos em relação a qualquer pessoa. Isso jamais nos deveria impedir, todavia, de declarar com sinceridade e respeito nossa convicção bíblica de que a prática homossexual é pecaminosa e que não podemos concordar com ela, nem com leis que a legitimam. Diante da existência de dispositivos legais que permitem que uma pessoa deixe ou transfira seus bens a quem ele queira, ainda em vida, não há necessidade de leis legitimando a união civil de pessoas de mesmo sexo – basta a simples manifestação de vontade, registrada em cartório civil, na forma de testamento ou acordo entre as partes envolvidas. O reconhecimento dos direitos da união homoafetiva valida a prática homossexual e abre a porta para o reconhecimento de um novo conceito de família. No Brasil, o reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo para fins de herança e outros benefícios aconteceu ao arrepio do que diz a Constituição: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (Art. 226, § 3º).

Cristãos que recebem a Bíblia como a palavra de Deus não podem ser a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma vez que seria a validação daquilo que as Escrituras, claramente, tratam como pecado. O casamento está no âmbito da autoridade do Estado e os cristãos são orientados pela Palavra de Deus a se submeter às autoridades constituídas; contudo, a mesma Bíblia nos ensina que nossa consciência está submissa, em última instância, à lei de Deus e não às leis humanas – “Importa antes obedecer a Deus que os homens” (Atos 5.29). Se o Estado legitimar aquilo que Deus considera ilegítimo, e vier a obrigar os cristãos a irem contra a sua consciência, eles devem estar prontos a viver, de maneira respeitosa e pacífica em oposição sincera e honesta, qualquer que seja o preço a ser pago.

[Artigo publicado na revista Cristianismo Hoje]
Texto do Reverendo Augustus Nicodemus Lopes
Fonte: O Tempora! O Mores!. Acesso em 06 de julho de 2013.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian