O título do blog tem amplo significado. Tanto o autor como o presente espaço estão em constante construção.
(Afinal, somos seres inconclusos...). O blog vem sendo construído periodicamente - como todo blog - através da postagem de textos, comentários e divagações diversas (com seu perdão pela aliteração).

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

"Não importam as circunstâncias" - O louvor segundo Jesus

A base bíblica para a breve exposição a seguir se encontra no Evangelho segundo escreveu Mateus, 26.30: "E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras."
Em que contexto ocorreu o fato relatado no versículo em apreço? Em seu ministério terreno, o Mestre havia acabado de participar da última ceia com seus discípulos, momento em que dá novo significado à Páscoa judaica e institui a Ceia do Senhor, ou Santa Ceia. Após transmitir as últimas orientações, retirou-se para o Getsêmani, onde orou intensamente, tomado de tão grande agonia que "seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão" (Lucas 22.44).
Tal tristeza que tomou conta do Senhor se devia ao fato de que Ele sabia que, nas próximas horas, mesmo sendo inocente seria traído por um de seus discípulos, seria sumariamente julgado, torturado, condenado e morto numa cruz. Mesmo sabendo tudo isso, cantou um hino em louvor ao Pai. A Bíblia não nos diz qual foi o cântico entoado naquela ocasião, embora se supõe que tenha sido um dos Salmos, entre o 113 e o 118, os quais eram comumente cantados durante a comemoração da Páscoa.
Conquanto não saibamos exatamente, é certo que Ele louvou ao Pai. Ele não cantou nada parecido com as canções de autoajuda e vingança que hoje em dia muitos chamam de "hino". Ou você consegue imaginar Jesus cantando algo como os versos horrorosos contidos em "Sabor de Mel"? Ou "Vai lá e pega quem falou da minha vida, avisa que eu estou de pé"?
Não, é inconcebível. Sem dúvida, os louvores entoados pelos lábios do Senhor tinham o Pai como protagonista. Não eram hinos de exaltação ao homem, tampouco palavras de vingança ou recalque. Aliás, o que Jesus ensinou é exatamente o contrário da vingança e do recalque. A Palavra nos ordena que amemos o próximo (Marcos 12.33; Mateus 19.19, 22.39, etc.), e consideremos os outros superiores a nós mesmos (Filipenses 2.3).
Verdadeiramente, apesar da iminência de Sua morte, independente de circunstâncias, Ele louvou. Não como muitos, que num dia cantam: "Te louvarei, não importam as circunstâncias", e no outro cerram os lábios e vivem como se Deus não existisse.
Louvou de todo o coração, louvou de verdade, exaltou ao Pai, em nada lembrando as canções hoje à disposição no mercado evangélico, gravadas por cantores e "ídolos gospel" que estão mais interessados no estrelismo, na autoglorificação e da promoção pessoal. E, claro, dos cachês exorbitantes e das contas bancárias polpudas.

Cabe aqui diferenciar louvor de adoração:
Entoamos louvores a Deus por aquilo que Ele fez, por aquilo que Ele faz e por aquilo que Ele vai fazer. Por outro lado, O adoramos por aquilo que Ele É.
O louvor pode ser comunitário. Já a adoração, é individual.
Enquanto o louvor é circunstancial, a adoração deve ser incondicional.
Aliás, o significado e a maneira da adoração a Deus tem sido limitado, distorcido e restringido por muitos que acreditam existir “fórmulas” para tal. E não há. O leque doxológico é amplo. Adoração é entrega diária ao Criador, como dependentes d’Ele que somos, e não somente “cantar” por alguns momentos durante um culto. Levando em consideração as palavras de Jesus registradas no Evangelho de João, capítulo 4 versículos 23 e 24 ("Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade."), podemos inferir que são formas de adoração:
- Estar constantemente na presença do SENHOR, sendo guiado pelo Espírito e fazendo Sua vontade (Rm 8.14; Gl 5.16).
- Ter prazer na Lei do SENHOR, amá-la, reverenciá-la e nela meditar de dia e de noite (Sl 1);
- Abster-se de toda a aparência do mal, de maneira que Deus seja glorificado com nossos corpos (I Ts 5.22);
- Abrir o coração ao amor do Pai, e apresentar nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12.1);
- Purificar a imaginação por intermédio da beleza de Deus; apartar-se do mal e fazer o bem; buscar a paz e a seguir (I Pe 3.11);
- Fazer da vontade de Deus nossa vontade e amá-lo de todo o coração, de toda a alma, e de todo o pensamento; e amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22.37-39).
É óbvio que esses poucos parágrafos estão longe, muito longe, a anos-luz de trazer em sua completude a definição de adoração, mas é possível termos uma noção. Até porque definir com palavras o que é a adorar a um Deus infinito, acaba por torná-lo finito. Assim como é impossível definir a Deus com palavras, de igual maneira é impossível definir a adoração a Ele. Mas, se devemos adorá-lo em espírito e em verdade, podemos definitivamente afirmar que NÃO é adoração:
- Levantar as mãos mecanicamente quando incitados pelo dirigente do culto;
- Dizer “Glória a Deus” e “Aleluia”, também de maneira mecânica, sob palavras de ordem do pregador, do tipo “adore, adore, adoooooooore!!!”;
- Cantar “abro mão dos meus sonhos”, “perto quero estar, junto aos Teus pés...”, “eu estou disposto a morrer por ti” e outras semelhantes apenas da boca para fora, sem a mínima noção do que está falando;
- Cantarolar o mesmo "mantra gospel" por incontáveis minutos, como que querendo fazer a igreja “pegar no tranco” e, por conseguinte, empurrar a exposição da palavra para o final do culto;
Enfim, se cremos que a adoração deve ser espontânea, qualquer atitude direcionada por outrem não se enquadra na adoração a Deus.
Ressaltemos que, se Jesus afirmou que devemos adorá-lo em espírito e em verdade, é porque decerto muitos o adorariam de maneira contrária. Observem a contraposição e conclua: você tem adorado a Deus “em espírito e em verdade” ou “na carne e em mentira”?
Que em todo o tempo O adoremos e verdadeiramente O louvemos, "não importam as circunstâncias". Como Ele que, à sombra da cruz, à beira da morte, cantou um hino ao Pai.
Deus nos abençoe em Nome de Jesus.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
[Síntese da aula ministrada na EBD da Assembleia de Deus Ministério de Santos - Jardim Gaivotas, Caraguatatuba/SP, em 30DEZ12.]