A base bíblica
para a breve exposição a seguir se encontra no Evangelho segundo
escreveu Mateus, 26.30: "E, tendo
cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras."
Em que contexto
ocorreu o fato relatado no versículo em apreço? Em seu ministério
terreno, o Mestre havia acabado de participar da última ceia com
seus discípulos, momento em que dá novo significado à Páscoa
judaica e institui a Ceia do Senhor, ou Santa Ceia. Após transmitir
as últimas orientações, retirou-se para o Getsêmani, onde orou
intensamente, tomado de tão grande agonia que "seu
suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão"
(Lucas 22.44).
Tal
tristeza que tomou conta do Senhor se devia ao fato de que Ele sabia
que, nas próximas horas, mesmo sendo inocente seria traído por um
de seus discípulos, seria sumariamente julgado, torturado, condenado
e morto numa cruz. Mesmo sabendo tudo isso, cantou um hino em louvor
ao Pai. A Bíblia não nos diz qual foi o cântico entoado naquela
ocasião, embora se supõe que tenha sido um dos Salmos, entre o 113
e o 118, os quais eram comumente cantados durante a comemoração da
Páscoa.
Conquanto
não saibamos exatamente, é certo que Ele louvou ao Pai. Ele não
cantou nada parecido com as canções de autoajuda e vingança que
hoje em dia muitos chamam de "hino". Ou você consegue
imaginar Jesus cantando algo como os versos horrorosos contidos em
"Sabor de Mel"? Ou "Vai lá e pega quem falou da minha
vida, avisa que eu estou de pé"?
Não,
é inconcebível. Sem dúvida, os louvores entoados pelos lábios do
Senhor tinham o Pai como protagonista. Não eram hinos de exaltação
ao homem, tampouco palavras de vingança ou recalque. Aliás, o que
Jesus ensinou é exatamente o contrário da vingança e do recalque.
A Palavra nos ordena que amemos o próximo (Marcos 12.33; Mateus
19.19, 22.39, etc.), e consideremos os outros superiores a nós
mesmos (Filipenses 2.3).
Verdadeiramente,
apesar da iminência de Sua morte, independente de circunstâncias,
Ele louvou. Não como muitos, que num dia cantam: "Te louvarei,
não importam as circunstâncias", e no outro cerram os lábios
e vivem como se Deus não existisse.
Louvou
de todo o coração, louvou de verdade, exaltou ao Pai, em nada
lembrando as canções hoje à disposição no mercado evangélico,
gravadas por cantores e "ídolos gospel" que estão mais
interessados no estrelismo, na autoglorificação e da promoção
pessoal. E, claro, dos cachês exorbitantes e das contas bancárias
polpudas.
Cabe
aqui diferenciar louvor de adoração:
Entoamos
louvores a Deus por aquilo que Ele fez, por aquilo que Ele faz e por
aquilo que Ele vai fazer. Por outro lado, O adoramos por aquilo que
Ele É.
O louvor pode ser
comunitário. Já a adoração, é individual.
Enquanto o louvor é
circunstancial, a adoração deve ser incondicional.
Aliás, o
significado e a maneira da adoração a Deus tem sido limitado,
distorcido e restringido por muitos que acreditam existir “fórmulas”
para tal. E não há. O leque doxológico é amplo. Adoração é
entrega diária ao Criador, como dependentes d’Ele que somos, e não
somente “cantar” por alguns momentos durante um culto. Levando em
consideração as palavras de Jesus registradas no Evangelho de João,
capítulo 4 versículos 23 e 24 ("Mas
a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim
o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem
em espírito e em verdade."),
podemos inferir que são formas de adoração:
-
Estar constantemente na presença do SENHOR, sendo guiado pelo
Espírito e fazendo Sua vontade (Rm 8.14; Gl 5.16).
- Ter prazer na Lei
do SENHOR, amá-la, reverenciá-la e nela meditar de dia e de noite
(Sl 1);
- Abster-se de toda
a aparência do mal, de maneira que Deus seja glorificado com nossos
corpos (I Ts 5.22);
- Abrir o coração
ao amor do Pai, e apresentar nossos corpos em sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus (Rm 12.1);
- Purificar a
imaginação por intermédio da beleza de Deus; apartar-se do mal e
fazer o bem; buscar a paz e a seguir (I Pe 3.11);
-
Fazer da vontade de Deus nossa vontade e amá-lo de todo o coração,
de toda a alma, e de todo o pensamento; e amar ao próximo como a si
mesmo (Mt 22.37-39).
É óbvio que esses
poucos parágrafos estão longe, muito longe, a anos-luz de trazer em
sua completude a definição de adoração, mas é possível termos
uma noção. Até porque definir com palavras o que é a adorar a um
Deus infinito, acaba por torná-lo finito. Assim como é impossível
definir a Deus com palavras, de igual maneira é impossível definir
a adoração a Ele. Mas, se devemos adorá-lo em espírito e em
verdade, podemos definitivamente afirmar que NÃO é
adoração:
- Levantar as mãos
mecanicamente quando incitados pelo dirigente do culto;
- Dizer “Glória
a Deus” e “Aleluia”, também de maneira mecânica, sob palavras
de ordem do pregador, do tipo “adore, adore, adoooooooore!!!”;
- Cantar “abro
mão dos meus sonhos”, “perto quero estar, junto aos Teus
pés...”, “eu estou disposto a morrer por ti” e outras
semelhantes apenas da boca para fora, sem a mínima noção do que
está falando;
- Cantarolar o
mesmo "mantra gospel" por incontáveis minutos, como que
querendo fazer a igreja “pegar no tranco” e, por conseguinte,
empurrar a exposição da palavra para o final do culto;
Enfim, se cremos
que a adoração deve ser espontânea, qualquer atitude direcionada
por outrem não se enquadra na adoração a Deus.
Ressaltemos que, se
Jesus afirmou que devemos adorá-lo em espírito e em verdade, é
porque decerto muitos o adorariam de maneira contrária. Observem a
contraposição e conclua: você tem adorado a Deus “em espírito e
em verdade” ou “na carne e em mentira”?
Que em todo o tempo
O adoremos e verdadeiramente O louvemos, "não importam as
circunstâncias". Como Ele que, à sombra da cruz, à beira da
morte, cantou um hino ao Pai.
Deus nos abençoe
em Nome de Jesus.
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
[Síntese
da aula ministrada na EBD da Assembleia de Deus Ministério de Santos
- Jardim Gaivotas, Caraguatatuba/SP, em 30DEZ12.]
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Que Deus muito o abençoe.