1999 foi o ano em que comecei
a ser atraído pelo Evangelho de Cristo. Naqueles tempos em que a internet dava
seus primeiros passos e ainda não existia o Youtube, era dificílimo
encontrarmos pregações e palestras, os quais eu buscava com avidez face à minha
vontade de me aprofundar na Palavra.
Numa de minhas peregrinações
pelos canais de televisão num sábado de manhã, me deparei com um jovem senhor
falando sobre Jesus de uma forma que eu nunca havia presenciado: era Silas
Malafaia, em seus áureos tempos, em que não tinha tanto dinheiro mas servia a
Cristo com sinceridade e amor pelos ouvintes.
A partir dali, passei a me
interessar pelos materiais por ele publicados: livros, Cd's e fitas VHS. Confesso
que aprendi muito com algumas daquelas palestras/pregações.
No entanto, depois de alguns
anos, as coisas começaram a mudar paulatinamente. A teologia da prosperidade,
outrora renegada pelo aludido pastor, começou a ser por ele tolerada mediante
pequenos flertes até que, enfim, a abraçou por completo e nela se emaranhou.
Acredito que isso aconteceu
no momento em que ele entendeu que poderia ficar tão milionário quanto outros pastores lobos adeptos dessa abominável
teologia, que transforma o Soberano Criador em mera marionete que está à mercê
dos desejos humanos, numa espécie de gênio da lâmpada sempre pronto a atender
quaisquer desejos dos fiéis, ou mesmo numa versão melhorada do papai noel.
Ao mudar o foco de sua fala,
mudou também o tom para com seus detratores e até mesmo para com aqueles que
simplesmente discordam das suas ideias. Assim, aqueles que não compactuam com
sua nova linha de pensamento, passaram a ser chamados de manés, trouxas, e similares.
Passou também a ostentar seus
bens, afirmando com a boca cheia que havia adquirido um avião particular pela
bagatela de 12 milhões de reais, que seu anel custou 4 mil dólares e que que
seu automóvel Mercedes-Benz blindado está avaliado em 450 mil reais, dentre
outros arroubos de histeria e riqueza. Logo ele, que era um pregador ferrenho
contra a teologia da prosperidade... Confira aqui.
Hoje em dia, ao invés da voz
apologética do evangelho a qual Silas se orgulhava de ser (e a qual gostávamos
de ouvir), está chafurdado na lama, numa espécie de “topa tudo por dinheiro”,
abraçando outras coisas que outrora combatia (e.g., o apostolado
moderno).
O que dizer então da Bíblia
de 900 reais e outras campanhas horrendas realizadas por Silas com a ajuda dos pastores hereges gringos Mike Murdock e Morris Cerullo, com a finalidade de extorquir os crentes arrecadar dinheiro?
Mas o fundo do poço veio
recentemente, com o indiciamento por lavagem de dinheiro na Operação Timóteo,
desencadeada pela Polícia Federal com a finalidade de desarticular um esquema
de corrupção nas cobranças de royalties da exploração mineral. O
nome da operação está baseado na Primeira Epístola de S. Paulo ao jovem pastor
Timóteo na qual o apóstolo afirma: “Mas os que querem ser ricos caem
em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que
submergem os homens na perdição e ruína” (I Tm 6.9).
O
indiciamento se deu pelo fato de que Silas recebeu uma suposta “oferta” de 100
mil reais em uma conta bancária pessoal, proveniente de um dos escritórios
investigados. Claro que deve ser levado em consideração o princípio da presunção
de inocência, insculpido no inciso LVII do artigo 5º de nossa Magna Carta,
segundo o qual “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
Mas, convenhamos, como afirma o salmista, “um
abismo chama outro abismo” (Sl
42.7). E, o primeiro abismo no qual Silas caiu é justamente o da teologia da
prosperidade.
O desejo
sincero de meu coração é que Silas se arrependa de seus desvios doutrinários,
de sua ganância por poder, de sua ira, de sua falta de mansidão, de sua politicagem
e de seu amor ao dinheiro, e se volte enquanto é tempo ao cristianismo puro e
simples, do qual já foi um pregoeiro.
Afinal, como
sabemos, foi da vontade de Deus que Paulo fosse encarcerado, que Tiago fosse
morto à espada, que Estevão fosse apedrejado, que João Batista fosse
decapitado, que Pedro fosse crucificado de cabeça para baixo (segundo a
tradição cristã) e tantos outros mártires cristãos fossem “torturados, não aceitando o seu
livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e
prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada;
andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e
maltratados” (Hebreus 11:35-37).
Por que então seria da
vontade d’Ele que Silas e todos nós fôssemos hoje milionários?
Afinal, como disse Jesus, a
vida de qualquer não consiste na abundância do que possui (Lucas 12:15). A
riqueza do cristão é outra.
(Para textos bíblicos sobre os perigos do amor ao dinheiro, clique aqui)
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião...
Que Deus muito o abençoe.